Diz-se que Heráclito assim teria respondido aos estrangeiros vindos na intenção de observá-lo. Ao chegarem, viram-no aquecendo-se junto ao fogo. Ali permaneceram, de pé, (impressionados sobretudo porque) ele os encorajou a entrar, pronunciando as seguintes palavras: 'Mesmo aqui, os deuses também estão presentes'. (Aristóteles. De part. anim. , A5 645a 17ff).

sexta-feira, setembro 01, 2006

O essencializar-se da Verdade

Não que eu não queria a força e solidez das certezas, mas a perenidade da busca me azucrina as idéias. Na tentativa de definição de mim mesmo não ouso substancializar-me. Na verdade, não ouso mais fazê-lo. Porque houve época, num tempo não muito distante daqui, em que eu também me dava ao desfrute de ter lá minhas "verdades".

A angústia diante da falta de solidez que, se Zygmunt Baumann tem razão, caracteriza nossa tão amada modernidade; ou, diante do Nada da ausência de fundamento, segundo Heidegger; aterrorizou-me durante um longo período de tempo. Era como seu eu mesmo devesse viver minha própria "idade das trevas", algo como um fato, um destino do qual não poderia escapar.

Lembro-me uma vez, na versão mais antiga deste blog, quando escrevi sobre meu modo de ser barroco. Foi um dos textos que mais apreciei escrever naqueles dias. Nele eu me dava a conhecer de um modo que, até para mim, era inusitado. Foi algo como uma psicografia de mim mesmo. Contudo, tão logo pude me compreender assim, deixei de ser assim. Dito desse modo parece maluquice, e talvez seja mesmo. Mas, algo mais profundo está em jogo. Algo que, se não me engano, vai até mesmo além das determinações psicológicas de qualquer senso de identidade. Falo do essencializar-se da Verdade.

Em Sobre a essência da Verdade (1943) "meu amigo" Heidegger fala sobre como a Filosofia deve tornar-se algo como uma revolta contra o evidente. Não sei se ele usa essa expressão exata "revolta contra o evidente", mas é esta a sensação que tenho toda vez que leio a introdução deste texto. Ela inaugura para mim a compreensão do papel do Filosófo, ou antes, o seu lugar no mundo: o mistério. Contra o império do evidente Heidegger parece propor o mistério.

Compreender o mistério é minha grande tarefa, a tarefa que toma minha estadia neste mundo e a torna tão excitante em tantos aspectos. Compreender como a partir do mistério a Verdade se dá e nos toma para si é um dos motivos pelos quais venho aqui conversar com vocês. É por este motivo que dou aulas, leio, pesquiso... vivo...

De fato, a busca pela Verdade, se configura em busca de mim mesmo. Pois, embora não ouse me "substancializar" tomando qualquer conceito que me ofereçam como definição suficiente de mim; embora eu recuse conscientemente os rótulos de qualquer espécie; desejo realizar o que há de mais próprio em mim: desejo tornar-me questão.

Um forte abraço:
Bhaktisiddhanta Dasa.
(Augusto Araujo)

0 comentários: