Às vésperas da eleição, Marina Silva fala sobre parada gay, união civil e muito mais, leia aqui
Marina Silva: evangélica e simpatizante
Quando anunciou sua candidatura à presidenta, Marina Silva (PV) causou certo receio na comunidade gay brasileira, preocupada com um possível posicionamento a favor de religiosos extremistas e contra os direitos LGBT. Mas ao longo do tempo, conforme ia construindo seu discurso de campanha, ela foi se mostrando, mesmo que às vezes timidamente, a favor de pontos importantes para a população colorida e causando, desta vez, surpresa.
Depois de um episódio polêmico sobre segurar ou não a bandeira do movimento LGBT, as atenções da comunidade gay se voltaram ainda mais para Marina, e principalmente para suas declarações no que diz respeito a pontos como a adoção de crianças e a união civil. Em seu programa de governo, os LGBT aparecem contemplados com outras minorias como negros e mulheres, o que, segundo a própria Marina, não vai relegar a luta da diversidade sexual para segundo plano.
Em uma entrevista que vai direto aos pontos que te interessam, Junior questionou Marina sobre tudo o que você quer saber de uma candidata. A seguir, ela solta o verbo sem medo e garante que, se eleita, vai apoiar as uniões e adoções conforme o caso e as Paradas Gays e acha que um presidente não deve se meter em assuntos médicos como a cirurgia de readequação sexual.
A senhora já se posicionou a favor do reconhecimento de direitos por meio da união civil entre pessoas do mesmo sexo, mas porque não é a favor do casamento entre casais assim?
Por objeção de consciência. Mas, como tenho dito, minha posição contrária ao casamento não quer dizer que não seja favorável à garantia de uma série de direitos, que hoje são negados às pessoas do mesmo sexo que vivem um relacionamento estável. Sou favorável ao direito à herança, ao plano de saúde conjunto, ao acompanhamento em caso de deslocamento para outra cidade para cumprir função pública, ao acompanhamento em caso de internação, entre outros. Como presidente, trabalharei para que todas as pessoas tenham acesso a políticas públicas que assegurem condições de vida dignas, independente de credo, raça ou condição sexual.
Se for uma opinião pessoal, como não deixá-la interferir em uma possível futura administração do País?
Tenho a clareza de que o Estado laico, estabelecido pela Constituição Federal, deve sempre orientar as ações do Presidente da República de forma a garantir a justa mediação entre os diferentes interesses expressos pelos vários segmentos da sociedade e certificar que todos tenham garantido o respeito a seus direitos. O que é válido tanto para os direitos civis quanto para os direitos religiosos.
Qual sua opinião sobre a adoção por casais de mesmo sexo?
A prioridade em um processo de adoção é a criança. Em toda adoção, seja por casais homossexuais ou heterossexuais, é necessária uma profunda avaliação feita por especialistas a partir de uma série de critérios técnicos. Uma vez aprovado o processo de adoção pelas autoridades competentes, meu posicionamento é favorável ao que for considerado ser o melhor para a criança, que precisa de amor e acolhimento para sair da condição de desamparo a que está submetida.
A permissão dessa adoção está em seus planos? Por quê?
Já temos em nosso país a base institucional e a jurisprudência que dão suporte para avaliar tecnicamente cada caso de adoção, que envolve aspectos que consideram prioritariamente o bem-estar físico, emocional e psicológico da criança. O que precisamos fazer é zelar para que cada processo de adoção seja criterioso e seguro para todos os lados, tanto para a criança quanto para as pessoas que se dispõem ao amoroso gesto da adoção.
Se eleita, a senhora reconheceria a união civil entre pessoas do mesmo sexo, principalmente no tocante aos direitos civis?
Em minha opinião, o Estado deve reconhecer e respeitar os direitos de todas as pessoas e não agir diferente em relação aos diretos civis das pessoas do mesmo sexo que têm união estável. Eles devem ser respeitados, como já me referi anteriormente, no que concerne ao direito à herança, ao plano de saúde conjunto, ao acompanhamento em caso de doença, entre outros. São direitos que lhes são negados e que, com justa razão, lhes causam um grande sentimento de injustiça.
Acredita que perderia eleitorado fazendo isso, ou qualquer outra ação em prol dos LGBT?
A questão é mais importante do que perder ou ganhar votos. Sempre tenho marcado minha vida pública pela defesa coerente daquilo em que acredito independentemente da perda ou não de votos.
Como presidente, qual é a melhor forma de equilibrar interesses tão díspares quanto os dos mais religiosos e os homossexuais? Existe uma prioridade? Qual é ela?
A prioridade será sempre a defesa da Justiça e do respeito a todas as pessoas. Para mediar os diversos interesses entre os grupos divergentes, o Estado tem que criar espaços de debate qualificado das diferentes posições para que haja uma forma de convivência respeitosa entre os diferentes grupos de interesse. Ademais não vejo a fé cristã como tendo que ser necessariamente antagônica aos legítimos direitos das pessoas e grupos. Afinal de contas, valores como justiça, liberdade, respeito e amor ao próximo constituem toda a base dos ensinamentos de Jesus, que nos mostra que nada deve ser feito por força ou violência.
Em seu plano de governo, os LGBT são contemplados juntamente com outras minorias no que diz respeito à luta contra a discriminação. Se eleita, a luta LGBT terá o mesmo espaço em seu governo do que a luta de negros, mulheres e portadores de deficiência?
Nas diretrizes do meu programa de governo explicitamos: “Queremos a valorização da diversidade e o respeito aos direitos das minorias”. O respeito aos direitos constituídos de todos os cidadãos, sem discriminá-los por qualquer razão, é um valor inegociável em um Estado democrático e faz parte de meu compromisso pessoal de vida na luta pela democracia.
Qual sua opinião sobre as Paradas Gays? Seu governo continuaria financiando tais eventos como faz o atual?
Não tenho conhecimento sobre o atual sistema de financiamento das Paradas Gays. Mas minha opinião é que as atividades que envolvem manifestação pública de ideias dos movimentos sociais devem ser autônomas e não devem depender do Estado. Até onde tenho conhecimento, legalmente o que o Estado pode autorizar para as manifestações é o uso de local público, cumprir sua obrigação de garantir segurança pública e assistência à saúde em caso de ocorrências médicas durante as manifestações. Acho importante que ocorra repasse de recursos públicos para iniciativas em parceria com instituições da sociedade, que prestem serviços de acordo com as normas legais, em suplementação às ações do Estado.
A senhora concorda com o financiamento público de cirurgias de readequação sexual como é feito no Brasil? Se eleita, irá mantê-lo?
Tal como no caso da adoção há uma prioridade aqui: o bem-estar e a saúde do ser humano. Se há um laudo médico dizendo que é fundamental fazer a cirurgia, não cabe a um presidente interferir nesse assunto.
O governo atual desenvolve várias iniciativas pró-LGBT como financiamento de cirurgias, Paradas e principalmente por meio do Programa Brasil Sem Homofobia, que culminou na criação da Coordenação Nacional LGBT no ano passado. São boas iniciativas? Devem ser mantidas? Serão ampliadas caso a senhora seja eleita?
Como disse anteriormente, as manifestações de ideias e visões de mundo dos movimentos sociais devem estar desatreladas do Estado. As instituições que se dedicam a cuidar dos interesses dos segmentos da sociedade, que estiverem fazendo seu trabalho em conformidade com os princípios da boa gestão pública, serão mantidos.
O PT é conhecido por ser inclusivo e a senhora fazia parte do partido. Teve alguma experiência com a população LGBT neste período? Como foi?
Desde o inicio de minha militância política, tenho me dedicado prioritariamente às lutas socioambientais. Infelizmente, no caso desta agenda, o PT não conseguiu ser suficientemente inclusivo. Ainda que, por minha atitude de apoio à defesa dos direitos humanos, tenha contribuído indiretamente, nunca tive uma experiência de participação política específica nessa agenda.
*A reportagem também entrou em contato com as assessorias dos candidatos José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT), mas não obteve resposta.
*Entrevista cedida pela revista Junior e publicada na íntegra.
(Fonte: Mix Brasil)
1 comentários:
Na minha visão, que não acompanha política, achei bom e ruim.
Bom porque ela pelo menos tem a educação e a sensibilidade de falar sobre isso, de uma forma não discriminatória. Gostei inclusive do "Condição Sexual" que ela usou.
Porém, como todo político, as respostas foram meio evasivas. Nenhuma pergunta importante foi realmente respondida com sim ou não. Sempre é na base do "meu plano prevê a igualdade, a saúde e etc".
Mas foi bom ler, pois eu ainda não estou decidido em quem votar! Então, tenho mais o que pensar sobre ela! Bom texto mesmo!
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