Advogada
Presidente da Comissão da Diversidade Sexual da OAB
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Há alguns dias uma jovem cometeu suicídio ao saltar da janela de seu apartamento, no centro de Campina Grande (PB). Segundo informações, a moça sofria de um quadro grave de depressão e estava sob tratamento. Ainda de acordo com as informações a que tive acesso, tudo se passou em apenas um minuto de distração: a pessoa que estava com ela no momento apenas se virou para desligar o fogão aceso, e quando se voltou a jovem já estava pulando pela janela.
Esse fato me trouxe algumas memórias e muitas reflexões. Em 2007 eu mesmo me vi preso a um quadro depressivo moderado que, felizmente, foi revertido com o auxílio de medicação e terapia. E quando soube da notícia, imediatamente me solidarizei com a menina que não teve a mesma possibilidade.
Apenas quem já esteve em depressão pode compreender o sofrimento de alguém nessa situação. Isso porque, para quem está de fora parece inexplicável que uma pessoa que vive cercada de afeto da família e dos amigos, que não enfrenta grandes problemas objetivos, que foi bem educado, etc.; possa tornar-se vítima de dor tão intensa que justifique escolher a morte como saída.
Isso se dá porque, infelizmente, para muitos ainda, a depressão acontece por algo como uma "falha de caráter". Para muitos a pessoa em depressão é um fraco, alguém que não sabe apreciar as coisas boas da vida e se centra apenas em seu sofrimento egoísta. Muitos ainda desconhecem as causas orgânicas deste mal. E, mais, por não haverem - felizmente - vivido o mesmo quadro, embora se preocupem com aqueles que passam por isso, não podem compreender como pode ser real aquele sofrimento, aquela dor, que existe apenas para quem a sofre.
Desde que soube o que havia acontecido com essa jovem, de quem não sei nem mesmo o nome, passei a me sentir estreitamente ligado a ela. Não como algo místico, ou mediúnico, me entendam. Ligo-me a ela por um laço fraterno: o sofrimento nos tornou irmãos.
Como eu disse, sei como é ser tomado por uma dor que você mesmo é incapaz de explicar. Sei como tal sofrimento, que para os outros parece imaginário, para quem o padece torna-se a única realidade. Sei o que é desejar dormir e nunca mais acordar. Sei como a morte se apresenta como a única saída capaz de fazer cessar a dor.
Depois de refletir sobre todas essas coisas, pude perceber o quanto próximo estou dessa jovem mulher, o quanto passei a amá-la em seu sofrimento. Ela é minha irmã, a quem rendo, aqui, minha homenagem.