Diz-se que Heráclito assim teria respondido aos estrangeiros vindos na intenção de observá-lo. Ao chegarem, viram-no aquecendo-se junto ao fogo. Ali permaneceram, de pé, (impressionados sobretudo porque) ele os encorajou a entrar, pronunciando as seguintes palavras: 'Mesmo aqui, os deuses também estão presentes'. (Aristóteles. De part. anim. , A5 645a 17ff).

quarta-feira, dezembro 30, 2009

Um desejo de Ano Novo

Meu desejo de Ano Novo é que possamos viver a diferença com menos parcimônia. Que aprendamos o diálogo e que a intolerância não tenha vez. Que sejamos maduros o suficiente para que deus e sua vontade não sirvam como desculpas para que nossas inseguranças se transformem em leis. Que as certezas sejam menores e que nos exorcizemos das ideologias que matam e fazem sofrer.

Meu desejo é que sejamos mais humanos!

Feliz 2010!

Grandes beijos…

quinta-feira, dezembro 10, 2009

Humano, demasiado humano

Cartaz Borra de café_finalm

 

Tenho tentado encontrar uma maneira de descrever minha impressão sobre o filme “Borra de Café” desde que tive a oportunidade de participar de sua pré-estreia no dia 08/12.

O curta-metragem de Aluízio Guimarães, que já tive a oportunidade de divulgar aqui pelo “Mansões” (cf.: Pré-estréia do curta “Borra de Café” ; e Nova produção do cinema paraibano), mostra uma Paraíba “verde” e “bem nutrida”, como era a intenção anunciada pelo diretor em sua fala antes da exibição. Mas mostra, sobretudo, uma Paraíba feita de seres humanos e não dos “heróis da seca” – seres quase mitológicos para os que somos de outras regiões do Brasil – , humanos como eu e você. Todos os personagens foram construídos a partir dessa noção belíssima de humanidade que ama e se desespera, mas vive.

O resultado? Um filme delicado, que trata de maneira feliz e emocionante os conflitos e os privilégios de nossa condição. Um filme rico, denso, feito para quem não teme olhar o prosaico da vida cotidiana com olhos de poeta. Um filme honesto, sem subterfúgios pseudo-intelectuais e pseudo-artísiticos. Um filme “humano, demasiado humano”, para tomar emprestado o dito nietzscheano.

Um filme pra se rever!

De minha parte sou grato por ter sido convidado para a pré-estreia de uma obra desse quilate. E, aproveito para parabenizar toda a equipe pelo resultado de um trabalho feito com muito suor e inegável talento.

domingo, dezembro 06, 2009

Religião e Homossexualidade

 

Igreja Anglicana reacende polêmica ao eleger bispa abertamente gay *

Escolha de lésbica em Los Angeles reforça divisões entre membros conservadores e liberais.

A Igreja Anglicana na cidade americana de Los Angeles reacendeu neste domingo uma enorme polêmica ao eleger o que será o segundo bispo abertamente gay da igreja em todo o mundo.

A reverenda Mary Glasspool, de Baltimore, foi eleita bispa assistente, mas ainda precisa que a maioria da Igreja Episcopal nacional apóie a escolha.

Há seis anos, a eleição do primeiro bispo abertamente gay, Gene Robinson, de New Hampshire, causou enormes divisões entre os clérigos e fiéis.

Glasspool, de 55 anos, atuou como cânone da Diocese de Maryland por oito anos.

Em um comunicado divulgado após a eleição, ela disse que "qualquer grupo de pessoas que tenha sido oprimido por causa de qualquer elemento isolado de sua personalidade clama por justiça e direitos iguais".

Divisões

Os conservadores já expressaram sua oposição à escolha da bispa.

Eles insistem que a Bíblia rejeita o homossexualismo, enquanto os mais liberais dizem que o livro deve ser reinterpretado sob a luz do conhecimento contemporâneo.

Na época da escolha do primeiro bispo gay, a briga levou à formação de um movimento alternativo conservador nos Estados Unidos, a Igreja Anglicana da América do Norte.

O chefe da comunidade anglicana mundial, o Arcebispo da Cantuária, Rowan Williams, está sob pressão para reconhecer o movimento.

O correspondente da BBC para assuntos religiosos, Chris Landau, disse que a eleição de Glasspool é mais uma evidência das divisões da Igreja em relação à questão da homossexualidade.

Segundo ele, para muitos fiéis nos Estados Unidos, a eleição de bispos abertamente gays é simplesmente um reflexo da diversidade que vem sendo defendida pela Igreja Anglicana há muito tempo.

A Igreja Anglicana possui 77 milhões de fiéis em todo o mundo.

________________

* Fonte:

http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1405052-5602,00-IGREJA+ANGLICANA+REACENDE+POLEMICA+AO+ELEGER+BISPA+ABERTAMENTE+GAY.html

Pré-estréia do curta “Borra de Café”

 

ANTÔNIO E ANA BEATRIZ - FACHADA DA CASA 3

Cultura cafeeira do brejo paraibano

é tema de curta-metragem

A pré-estreia será em 08 de dezembro durante o FEST Aruanda

No início do século XX, no brejo paraibano, era produzido o segundo melhor café do país. A informação é do diretor e roteirista Aluizio Guimarães, arrematando que "nosso café perdia apenas para o café produzido em São Paulo”. E para resgatar este aroma histórico escondido nos rios e vales paraibanos foi produzido o curta-metragem “Borra de Café”.

Para além de um simples curta-metragem, a trama promete levantar algumas polêmicas, uma delas é a ousadia impressa na narrativa. “Não são histórias reais, mas bem que poderiam ser”, observa Aluizio, confessando que muito do que escreveu foi baseado em causos e estórias contadas por pessoas da região.

Aliás, uma das características da produção é justamente a de retratar o cotidiano dos habitantes do Brejo. “É uma região pouco valorizada por sua beleza e história. No filme, tento mostrar que a Paraíba não é apenas solo rachado, sol escaldante e mandacaru”, destacou Aluizio.

“BORRA DE CAFÉ” - é um curta, com duração de 20 minutos, que tem como cenário as belas paisagens do brejo paraibano, onde será mostrado o drama de Antônio (Chico Oliveira), que no início do século XX (1908 a 1923), depois da morte da esposa, Maria (Suelaine Lima), se depara com a difícil situação de criar sozinho sua única filha, Ana Beatriz (Rayanne Araújo). Isolados em uma vale, recebendo esporadicamente a visita de dois amigos tropeiros, os dois desenvolvem uma forma peculiar de relação, que trará grandes consequências em suas vidas.

Trata-se de um curta-metragem de época, com uma rigorosa estrutura de Direção de Arte. A estrutura dramática do filme gira em torno de um núcleo familiar complexo. "Uma nudez que não despe e de uma dor que não grita" é assim que Aluizio exprime como serão apresentados os conflitos subliminarmente expostos na trama de "Borra de Café".

Tipo exportação - Após ser lançado e exibido em Campina Grande, João Pessoa, Matinhas, Olinda e Caruaru, o diretor tem outros planos de voo para o curta. É que "Borra de café" deverá ser posto à mesa dos inúmeros festivais de cinema no Brasil e no mundo, razão pela qual, será legendado em inglês, espanhol e francês.

O fato é que, embora o curta ainda esteja em fase de pré-estreia, ao que parece, será mais um dos muitos sucessos colecionados pelo autor, cuja produção teatral, a exemplo de "Água, areia e as maçãs" e “Inferno”, é bastante conhecida no meio artístico.Os interessados em sentir o sabor da obra já poderão fazê-lo. A pré-estreia está marcada para o dia 08 de dezembro em João Pessoa durante o FEST ARUANDA, no Hotel Tambaú, às 16 horas.

ANTÔNIO BEBENDO 2

Contatos:

amazilevieira@hotmail.com

(83)9972-0850

lucianomariz@gmail.com

(83)8858-0766 / (83)8841-9353

 

ANA BEATRIZ E ZÉ TROPEIRO - PORTA

Ficha técnica:

Direção: Aluizio Guimarães

Produção Executiva: Amazile Vieira

Direção de Produção: Luciano Mariz e Hingrit Nitsche

Direção de Fotografia: Helton Paulino

Direção e Edição de Som: Guga S. Rocha

Direção de Arte: Fernando Rabelo e Thaïs Gualberto

Figurino e Maquiagem: Iomana Rocha, Rebecca Cirino e Renato Barros

Edição e Finalização: Ely Marques

Elenco: Rayanne Araújo, Chico Oliveira, Suelaine Lima, Napoleão Gutemberg, João Demilton, Kaliuma Soares, Iris Bezerra e outros.

 

Geneceuda Monteiro

Jornalista DRT: 1.641

(83)9134-9075 / (83)2101-9031

gnceuda@paqtc.org.br

sábado, dezembro 05, 2009

Do “Fundamento da Moral”

 

Um texto de Marcel Conche *

Se eu fundamentar minha moral em minha religião, vocês contestarão minha religião em nome de uma outra religião ou da irreligião (se forem agnósticos ou ateus), e minha moral não passará de uma moral como as outras, de uma moral entre outras, uma moral particular. Só poderei dizer: esta é minha moral, vocês têm a sua, e eu a minha. Se eu fundamentar minha moral em minha filosofia, vocês contestarão minha filosofia em nome de uma outra filosofia ou da não-filosofia, e minha moral não passará de uma moral entre outras, sem nenhum direito de se impor. Se vocês contestarem a necessidade de fundamentar a moral, porque todos já dispõem de uma, acreditarei decerto que minha moral é a melhor, mas vocês acharão o mesmo da moral de vocês. Todas as morais terão igual direito de julgar o que é bom e o que não é. Então os assassinos de Buchenwald, Dachau, Auschwtiz, etc. estarão com a faca e o queijo na mão. Terem sido vencidos por uma força superior, mas da qual não será possível dizer que estava, mais do que qualquer outra, a serviço da verdade moral, terem sido vencidos, repito, será seu único erro.

Caso contrário, deve-se, em primeiro lugar, fundamentar a moral; em seguida, deve-se fundamentá-la não no particular – e uma religião ou uma filosofia são sempre particulares, porque existem outras – , mas no universal. O universal é o que deixa de lado todas as particularidades. Deixar de lado o que nos separa ou nos distingue é o que é feito no diálogo, quando se escuta. Eu falo, você escuta; você fala, eu escuto. Operamos ambos na redução dialógica, colocando de lado nossas crenças, nossas opiniões, nossas tradições, nossas particularidades de todos os tipos para estarmos exclusivamente atentos ao verdadeiro e ao falso. Realizamos o universal vivo por nossa operação recíproca. O que acontece então? Cada qual pressupõe que o outro pode apreender a verdade que é a sua verdade, mesmo que para cada um deles esta seja apenas a do outro. Ou: cada qual, simplesmente para poder dirigir-se ao outro, falar-lhe, pressupõe o outro como capaz da verdade. Por esse motivo, cada qual pressupõe o outro como seu igual. A partir do momento em que os desiguais dos regimes baseados em privilégios se dirigissem um ao outro que não fosse para julgar, louvar ou criticar, ou comandar sem réplica, colocariam em perigo, pelo simples fato de serem dois seres humanos falando um com o outro apenas para dizerem o verdadeiro e o falso, o próprio sistema que os estabelecia desiguais. É por esse motivo que privilegiados e não privilegiados não dialogavam e muitas vezes não se falavam. Ora, dessa igualdade de todos os homens, implicada no simples fato de se poder travar uma conversa de fato, extrai-se toda a moral – aquela que, diferentemente das morais coletivas particulares, é a mesma para todos e contém todos o direitos e deveres universais do homem. A moral baseia-se não nesta ou naquela crença, religião ou sistema, mas neste absoluto que é a relação do homem com o homem no diálogo.

* Fonte: CONCHE, Marcel. O fundamento da moral. São Paulo: Martins Fontes, 2006. p. XI-XII.

quarta-feira, dezembro 02, 2009

Da liberdade de opinião e de crença

Tudo tem limite, minha gente! Dia desses, voltando de João Pessoa com João, meu companheiro, num ônibus da empresa RealBus fomos surpreendidos por uma demonstração incontestável desse princípio.

Um senhor, trajado com farda da Polícia Militar do Estado da Paraíba, se levantou tão logo o ônibus ganhou a estrada e pediu a atenção de todos. Pensamos, naturalmente, que, como policial, ele teria algo importante para falar acerca da viagem, da estrada… Mas, qual não foi nossa surpresa quando este senhor começou a desfiar um “rosário” de frases prontas sobre como deus nos ama, de como ele enviou seu filho pra nos salvar do pecado e da morte, e de como somos livres para ir ao inferno por não acreditar na Bíblia. Foram bem uns quinze minutos e minha paciência chegou a seu limite. Ergui a mão e com a delicadeza que me é peculiar nestas ocasiões – perdoem-me esta pequena ironia – exigi que o referido “profeta” se calasse dizendo-lhe: –“ Porque você não imita deus e me dá liberdade de escolha? Não quero ouvir essa sua conversa! Não me interessa! Você já deu seu recado, chega!”. O homem resmungou mais algumas palavras, e se sentou. Não sem antes gritar: –“Leiam a Bíblia!”.

Depois desse episódio fiquei pensando: as pessoas estão perdendo a noção do que significa “liberdade de opinião e de crença e culto” – direito constitucional de todo cidadão brasileiro – e estamos à beira de uma nova onda de dogmatismo e de um estado controlado por ideologias religiosas.

Vejam, por exemplo, o caso das inúmeras tentativas de se aprovar o PLC 122/06 que criminaliza a homofobia. O projeto vem sofrendo tanta pressão contrária de setores religiosos conservadores – e isso mesmo depois de modificações significativas que ampliam a abrangência da lei para outros grupos minoritários e discriminados – que tenho a impressão de que o próximo passo será a proposta, por parte desses mesmos setores, de criminalizar a homossexualidade!

Exageros à parte – espero que seja mesmo um exagero meu – um dos principais argumentos destes grupos religiosos é que a aprovação do projeto de lei significará o cerceamento da liberdade de opinião e de culto. Curiosamente apelidaram o PLC de “lei da mordaça gay”, quando na verdade eles querem nos amordaçar para que não gritemos ante a violência, ante o desrespeito e a discriminação. Bem, não resta dúvida: este argumento é falacioso e tendencioso. De fato, como bem me recordou o amigo Marcelo Botticelli numa discussão recente a respeito do tema, o sentido do projeto tem sido deturpado e direcionado para a compreensão de que a lei, quando aprovada, fará apologia da homossexualidade. Algo como: –“Se você não for homossexual vai ser punido!”. Uma “bobagem sem temanho”, palavras dele, com as quais concordo sem tirar nem por.

O direito de livre expressão e de culto não significa poder dizer o que se quer, na hora que se quer e de quem se quiser. Isto também é uma “bobagem sem tamanho”. Como tenho advogado, a criminalização da homofobia encontra-se no mesmo patamar que a criminalização do preconceito de etnia (contra negros, amarelos, etc) e do preconceito contra a mulher e contra o idoso. Não se pode, embasado no direito de livre expressão, permitir que alguém - mesmo por razões religiosas - se refira aos negros como pertencendo a uma "raça" inferior. Também não se pode permitir, com base no mesmo direito, que se afirme sem mais que o mal (pecado) existe no mundo por causa da mulher; ou que o gênero feminino é inferior ao masculino. Da mesma maneira não se pode permitir que as pessoas de orientação homoafetiva sejam hostilizadas, desqualificadas, e menosprezadas com base na falácia de que se o projeto de lei for aprovado estaremos cerceando o direito de expressão de quem quer que seja.

É contra isso que o PLC 122/06 se levanta, e eu assino embaixo!

Para quem quiser conhecer o projeto de lei:

Bem como sua última (mais recente) configuração:

Abraços a todos!