Diz-se que Heráclito assim teria respondido aos estrangeiros vindos na intenção de observá-lo. Ao chegarem, viram-no aquecendo-se junto ao fogo. Ali permaneceram, de pé, (impressionados sobretudo porque) ele os encorajou a entrar, pronunciando as seguintes palavras: 'Mesmo aqui, os deuses também estão presentes'. (Aristóteles. De part. anim. , A5 645a 17ff).

segunda-feira, outubro 23, 2006

Que ninguém tema a felicidade...

O Blog amigo "Amorica" (veja o link ao lado), me trouxe a inspiração para o post de hoje. Claro, a inspiração vem da vida também que não poderia estar sendo mais generosa comigo. Um amor, muita felicidade, um sonho se realizando...
Sim, eu tô besta mesmo! Mas, porque não deveria estar? Por que alguém deveria temer a felicidade? Por causa da dor? Mas, se como me disse recentemente minha amiga Carla Capitani, por sua vez inspirada em Clarice Lispector, "el dolor y la felicidad, son signos vitales", porque eu deveria temer qualquer uma delas?
Estar vivo é um privilégio! Eu vivo... e vocês?
P.S.: Hoje se completam quinze dias... e é como se você sempre tivesse estado aqui comigo!

quinta-feira, outubro 19, 2006

Não há verdade além das aparências.

Este é o grande ganho da fenomenologia filosófica: as coisas são aquilo que mostram ser. Não há algo a ser buscado para além das aparências. Tudo o que é, de fato, somente é em suas aparições. A verdade do ente não é algo a ser buscado, uma vez que já nela nos encontramos. Como diria Merleau-Ponty: "Nós estamos na verdade, e a evidência é a experiência da verdade."
Enquanto acreditarmos e defendermos que o lugar da verdade é o conceito, o juízo, o enunciado (como se fosse mesmo possível uma topologia da verdade) estaremos privados de uma real percepção da experiência com a verdade na qual estamos quotidianamente lançados.
A crença amplamente difundida de que há algo além das aparências a ser conhecido torna-nos cegos à beleza da própria manifestação daquilo que buscamos. Tornamo-nos filósofos profissionais, teólogos, cientistas, etc. Nos esquecendo que é melhor sermos pensadores, místicos, poetas.
O filósofo profissional, preso a seus sistemas metafísicos, embora se encontre na experiência com a verdade, torna-se um dogmático porque não pensa tal experiência. Ou antes, não se detém junto a ela para realmente percorrer o caminho da experiência. Como dissemos na epígrafe destas Mansões, tal pensamento (o do filósofo profissional) não se demora junto ao que deve ser pensado. Parece-me ser a isto que Heidegger acena ao afirmar em Ser e Tempo:
Por mais rico e estruturado que possa ser o seu sistema de categorias, toda ontologia permanece, no fundo, cega e uma distorção de seu propósito mais autêntico se, previamente, não houver esclarecido, de maneira suficiente, o sentido de ser e não tiver compreendido esse esclarecimento como sua tarefa fundamental.
Assim, um pensamento que não atente à abertura essencial do homem em relação ao mundo, que não se situe no bojo mesmo da experiência com os entes que lhe vêm ao encontro dentro do mundo, no aberto do mundo, fecha-se dogmaticamente e torna-se, em última instância cego e distorcido em seu propósito mais autêntico.
Um pensamento que desconsidere a aparência, que nada mais é que a essencialização dos fenômenos, sua manifestação primária e imediata, em busca de algo além, corre o risco de morrer antes mesmo de cumprir seu papel originário.

Pequeno clamor

O vento canta na copa das árvores,
parece um lamento.
Parece um sonho que me convoca
a me reunir em mim, enquanto
o sol fustiga minha pele.
E eu, seco e coberto de pó,
me oculto de Teus olhos,
infinitos olhos imaculados.

Por que não Te revelas em definitivo?
Por que Te ocultas nos corpos,
nomes e formas se este mundo
em tudo se desassemelha de Ti?

quarta-feira, outubro 18, 2006

Porque as coisas passarão...

... eu passarinho.

Começo hoje parafraseando Mário Quintana porque a poesia salva e consagra o pensamento, erige-o.
Sim, as coisas estão acontecendo em minha vida de uma maneira antes insuspeita. Sim, estou em paz com tudo e com todos, porque amo de um amor sereno e livre. E, amando uma pessoa, amo o mundo inteiro.
Talvez pudéssemos fazer aqui uma metafísica do amor, mas a metafísica anda em declínio por estas bandas. E é bom que esteja. Toda metafísica anula, dilacera em função do sistema e das crenças prévias. Toda metafísica tolhe o espaço da liberdade e da criatividade. E o amor não cabe em sistemas. O amor não pode ser contido na instância das crenças, experiência única de liberdade que é.
Lembro-me de Heidegger (pra variar): liberdade é deixar-ser! No deixar-ser o encontro do que vem ao encontro. Neste caso a pessoa mais linda e profunda que pude sonhar! O outro. Íntegro, forte, pleno...
Estou feliz porque sou mais eu mesmo do que nunca! Porque a base de toda ética é a veracidade, e já não minto. Iludo-me, talvez. Mas, iludir-se é estar no jogo (in-ludere), e isto é a única coisa que realmente importa: o lúdico.
O óbvio do poema de Quintana é que tudo passa, mas eu permaneço intacto, livre como um passarinho. Elas (as coisas) passam por mim, mas não me prendem em seu visgo. Ao contrário, ainda mais me libertam inclusive de mim mesmo. Já não estou só.
Claro, a solidão existencial sempre persiste. É bom que seja assim. Ainda sou o mesmo. E é como se nunca houvesse um tempo anterior a este que vivo agora. As coisas passarão...
Beijos.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Meu sumiço...


Sim, eu sumi... por uma boa causa, claro! Passei o fim-de-semana prolongado em João Pessoa. Com tempo de sobra pra descansar e otras cositas mas... porque ninguém é de ferro, né?
A foto acima é do retorno. Na estrada... by José Sankárshana. O sujeito de branco é o João.
Muita coisa passando pela cabeça agora, muita coisa (boa) acontecendo, algumas idéias novas (e sempre antigas) surgindo.
Vem aí a Semana de Filosofia da UEPB e, depois, em dezembro, um colóquio de Ciência da Religião em João Pessoa (UFPB). Trabalhando pra apresentar alguma coisa por lá. Aqui, vou dar um curso sobre o conceito de verdade em Heidegger.
Bem, é isso... Tô na pressa. Depois escrevo melhor.

terça-feira, outubro 10, 2006

Só porque a Lara pediu.

Não sou poeta, Larinha! Deixe disso! Menos ainda fotógrafo. Mas, porque você pediu tem uns versinhos que fiz de graça, num momento em que Sri Sri Radha-Govinda pareciam muito distantes... É para Eles e pra você, minha amiga.
__________________________________
Minhas coisas andam perdidas,
meu pensamento ainda vaga
por um nada infinito;
e eu, que nem existo, nem nada,
sou vítima de Tua Verdade Alada.
Celebrações votivas,
a curva do ano em que morrerei,
em que estou morto há séculos.
Mas subsisto, nas linhas tênues
de Teus olhos indiferentes,
de Tua forma inerte e dourada
sobre o altar.

domingo, outubro 08, 2006

Libertas quae sera tamen!

A poesia salva, revigora, fortalece em momentos como os de agora em que a solidão é a marca mais forte de meu ser-no-mundo. Como os que realmente me conhecem sabem, tal solidão não me assusta, ao contrário, fascina-me sobremaneira.
Hoje sinto-me livre! Livre da mediocridade dos amores mal correspondidos, da vulgaridade alheia... Livre de sentimentos! Hoje, sou eu mesmo novamente.

sábado, outubro 07, 2006

Alguém fez um poema...


Que te demores, que me persigas
Como alguns perseguem as tulipas
Para prover o esquecimento de si.
Que te demores
Cobrindo-me de sumos e de tintas
Na minha noite de fomes.
Reflete-me. Sou teu destino e poente.
Dorme.
(Hilda Hilst. "Da Noite", X).


Beleza e solidão neste poema de Hilda Hilst. Beleza e solidão em mim, graças ao deus.
Sorte minha que não me surpreendo com a condição humana, dela sou íntimo.

quinta-feira, outubro 05, 2006

Poesia, sempre poesia...

Desculpem-me por voltar a vocês hoje. Mas, não posso deixar de partilhar a salvação que me trouxe Adélia Prado. Vejam:
CORRIDINHO
O amor quer abraçar e não pode.
A multidão em volta,
com seus olhos cediços,
põe caco de vidro no muro
para o amor desistir.
O amor usa o correio,
o correio trapaceia,
a carta não chega,
o amor fica sem saber se é ou não é.
O amor pega o cavalo,
desembarca do trem, chega na porta cansado
de tanto caminhar a pé.
Fala a palavra açucena,
pede água, bebe café,
dorme na sua presença,
chupa bala de hortelã.
Tudo manha, truque, engenho:
é descuidar, o amor te pega,
te come, te molha todo.
Mas água o amor não é.
(Adélia Prado, "O coração disparado e a língua seca").

Ensaio 2 (Vista da Varanda)


A foto não está tão boa, mas quando o sol bate nas paredes das casas do outro lado da rua tudo ganha uma exuberância infinita. É um luxo morar sozinho! Desfrutar do silêncio da solidão ocasionais... Desfrutar dos amigos que aqui aparecem inopinadamente (não é Eka Rsi?! Rsrs...). Tudo isso faz com que a força da vida se imponha de maneira incomparável!
Olhar a exuberância do sol nas paredes batidas da casa em frente é o mais próximo que preciso estar da Verdade!
Abraços e beijos:
Bhaktisiddhanta Dasa
(Augusto Araujo)

quarta-feira, outubro 04, 2006

Na noite... sozinho...


Essa foto ficou meio vampírica! Hehehe... Algo como um alter ego, eu acho! Lembra Douglas, dos livros da Anne Rice? De como nós os líamos e depois os discutíamos sentados naquele café em Juiz de Fora? Saudade...

Hoje me sinto meio como os personagens de Anne Rice: desesperados (=sem esperança), solitários, etc... Daí a imagem.
Minha felicidade, atualmente, vem daquele par de olhos castanhos, e daquele sorriso! Eles vieram me ver e me concederam o melhor início de noite que poderia desejar.
Saudades de alguns amigos... saudade das Minhas Gerais...
Saudade...

segunda-feira, outubro 02, 2006

Carpe Diem

É, caro amigo anônimo (ou será anônima?), eu sei disso, sempre soube. Hoje, mais do que nunca eu preciso saber que posso contribuir com um verso. A vida anda tão prosaica, os problemas se sucedem e tento me manter forte, apesar de tudo.
Colher a vida, o dia, o instante...
Eu, o de sempre.