Diz-se que Heráclito assim teria respondido aos estrangeiros vindos na intenção de observá-lo. Ao chegarem, viram-no aquecendo-se junto ao fogo. Ali permaneceram, de pé, (impressionados sobretudo porque) ele os encorajou a entrar, pronunciando as seguintes palavras: 'Mesmo aqui, os deuses também estão presentes'. (Aristóteles. De part. anim. , A5 645a 17ff).

segunda-feira, setembro 21, 2009

ÓRFÃ NA JANELA

 

Estou com saudade de Deus,

uma saudade tão funda que me seca.

Estou como uma palha e nada me conforta.

O amor hoje está tão pobre, tem gripe,

meu hálito não está para salões.

Fico em casa esperando Deus,

cavacando a unha, fungando meu nariz choroso,

querendo um poster dele no meu quarto,

gostando igual antigamente

da palavra crepúsculo.

Que mundo é desterro eu toda vida soube.

Quando o sol vai embora é pra casa de Deus que vai,

pra casa onde está meu pai.

(Adélia PRADO, in: O coração disparado, p.111).

 

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quinta-feira, setembro 17, 2009

A título de agradecimento

Quero agradecer a Marcela Amorim, a Paulo César Terra, a Janavatsala Devi Dasi (Gleide) , a Luiz Paulo, a João Paulo Grava, a Krishna Mayi Devi Dasi (Kátia Quadros), a Débora Bacarense, a Márcio Leite de Bessa, a Jorge dos Santos e a Vital Cruvinel, pelo incentivo, vindo por todos os meios e com as melhores palavras , no retorno das “Mansões”, e pela amizade.

Forte abraço!

segunda-feira, setembro 14, 2009

O estudo da obra de Allan Kardec.

 
(Allan Kardec - 1804-1869)

 

Gostaria de contar um pouco como foi que se processou essa mudança em meu objeto de estudo, e o que me levou a buscar a obra de Allan Kardec (1804-1869) como tema de meu doutorado.


Como sabem, meu mestrado em Ciência da Religião foi desenvolvido em torno da obra do filósofo alemão Martin Heidegger (1888– 1976). O que foi uma continuaçao natural do trabalho que vinha desenvolvendo durante os anos 1998-2001, os anos de minha graduação em Filosofia. Assim, quando entrei no Programa de Pós-graduação em Ciência da Religião (PPCIR) da Universidade Federal de Juiz de Fora, em 2002, pensei que seria adequado permanecer na área de concentração Filosofia da Religião.

O que poucos de vocês sabem é que meu projeto inicial não era exatamente este. Minha proposta de pesquisa, escrita para o processo seletivo voltava-se para uma leitura hermenêutica do clássico indiano Bhagavad-gita a partir do conceito heideggeriano de verdade. Muito sabiamente, no entanto, fui aconselhado pela banca a reduzir meu objeto aos conceitos de verdade e de linguagem em Heidegger. De fato, foi melhor assim, uma vez que não haveria tempo hábil para um apesquisa como aquela.

Bem, o tempo passou, vim viver na Paraiba (onde sou muitíssimo feliz, diga-se), tive algumas experiências docentes, e meu interesse acadêmico foi se definindo melhor.

De fato, a Filosofia continua sendo o lugar onde me movo com mais naturalidade – minhas incursões no âmbito das Ciências Sociais ainda são incipientes. Mas, meu principal interesse no campo disciplinar da Ciência da Religião sempre foi o que tenho chamado de “textos-fonte” da experiência religiosa. O que demonstra o exemplo do projeto do mestrado.

A partir disso vocês bem podem imaginar como me interessei por Kardec e sua obra. Eu procurava delimitar um objeto para a seleção do doutorado há algum tempo, e, em 2008, resolvi reler alguns livros da obra kardeciana. Como tenho alguns amigos espíritas e como eu mesmo já visitei alguns centros espíritas (e ainda visito, vez ou outra), comecei a comparar o que lia com o discurso que ouvia dos adeptos do espiritismo. Tal comparação deu-me a sensação de que em vários pontos – e com justificadarazão histórica – estes dois discursos diferiam significativamente. Principalmente quando se tratava daquilo que se convencionou chamar de o “tríplice aspecto da doutrina espírita” – a afirmativa de que o espiritismo é a um só tempo ciência, filosofia e religião. Percebi nisto uma possibilidade interessante para a pesquisa que gostaria de realizar.

Por fim, uma breve e superficial revisão na literatura acadêmica brasileira sobre espiritismo – a maioria dela desenvolvida do ãmbito das Ciências Sociais - deu-me a sensação de que, embora o espiritismo seja relativamente bem estudado no Brasil, como um grupo expressivo do campo religioso brasileiro, o estudo da obra de Kardec carecia de uma atenção maior.

Foi assim que a coisa se deu. Atualmente estou começando a fase das releituras para os primeiros esboços de capítulos da tese.

É isso aí…

domingo, setembro 13, 2009

Quando chega a hora?

Eu contei para meus pais de minha homossexualidade quando eu tinha 18 anos. Essa era a situação: morava em outra cidade (por causa da universidade) a pouco mais de 1 ano e eles estavam separados a menos de 1 ano.

Primeiro falei para meu pai, típica conversa de “pai pra filho”, numa visita de fim de semana. Ele perguntou se eu namorava e essas coisas… foi dizendo os nomes de uma amigas minhas… e eu dizendo que ele estava longe. Então ele falou o nome de, para ele, um amigo meu. Eu disse que era com ele que eu namorava. Ele me perguntou se era uma fase ou se eu gostava mesmo “disso” (sic). Eu disse que era gay mesmo. Ele disse que nada mudaria, que me amava e tudo mais. E nada mudou.

Com minha mãe foi um pouco mais dramático. Ela e meu pai brigaram por causa de um “segredo” meu que ele sabia e ela não. Disse-me que eu não confiava nela, que não a amava e saiu andando pela rua, altas horas da noite e na chuva …eu fui atrás dela disposto a encerrar essa confusão. Ela me perguntou que segredo era esse… se eu era drogado.. eu disse que não (querendo rir, mas respeitando seu choro)… perguntou se eu era gay… eu disse que era… e ela disse: “- Só isso!? Por que não me contou logo??” e também disse que me amava e que nada mudaria… e não mudou.

Faz dez anos que isso aconteceu. Eu ainda era dependente financeiramente falando (precisava de apoio para me sustentar em outra cidade durante a graduação). Na minha cabeça, o simples fato de eles saberem e apoiarem era o suficiente. Aos meus irmãos, (um casal e pouco mais jovens que eu), não achei necessário contar naquela época. Eles tinham a separação dos meus pais para digerir.

Mas quem são meus pais? Jovens dos anos 70/80. Minha mãe é professora de inglês de escolas públicas (na época que ela soube tinha 41 anos). Meu pai é taxista e ex-comunista (na época ele tinha 40 anos). Crescemos ouvindo que eles nos amavam e só queriam que fôssemos felizes. Eles tinham amigos gays e os respeitavam muito.

O que eu quero dizer com minha estória é que, como já falaram, não depende só da idade para contar para seus pais. Mas da maturidade: sua e deles.

E aí só cada um de nós, sabe os pais que tem em casa.

Estou “casado” fazem três anos. Todo mundo na minha família e na dele, no trabalho e entre nossos amigos sabe de nós. Mas tudo foi um processo de conquistas.E gays, pelo bem e pelo mal, têm que conquistar respeito em dobro.


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(Texto de João de Lima Neto. Originalmente publicado em: http://homofobiajaera.wordpress.com/2009/09/11/quando-chega-a-hora/#comments ).


Uma pequena amostra do talento e do caráter de meu companheiro da vida inteira.

Saudações!

terça-feira, setembro 08, 2009

De volta à Paraíba

Depois de meses nas Minas Gerais, entre Barbacena e Juiz de Fora, nas lides do doutorado, estou de volta à Paraíba, desde ontem (07/09/2009).

Foi um período de muita saudade, mas de realizações importantes. Já consegui montar um índice geral de hipóteses para o trabalho de desenvolvimento da tese, com o detalhamento de cada capítulo (serão 5 ao todo). Agora é trabalhar rumo ao exame de qualificação no próximo ano.

Estou bem entusiasmado com a pesquisa, acho mesmo que o trabalho ficará bom.

O pior desses meses em Minas foi a saudade de João. Mas agora passou… é bom estar em casa novamente! E, percebi, minha casa é onde ele está.

Por enquanto é isso aí.

Abraços!