(Allan Kardec - 1804-1869)
Gostaria de contar um pouco como foi que se processou essa mudança em meu objeto de estudo, e o que me levou a buscar a obra de Allan Kardec (1804-1869) como tema de meu doutorado.
Como sabem, meu mestrado em Ciência da Religião foi desenvolvido em torno da obra do filósofo alemão Martin Heidegger (1888– 1976). O que foi uma continuaçao natural do trabalho que vinha desenvolvendo durante os anos 1998-2001, os anos de minha graduação em Filosofia. Assim, quando entrei no Programa de Pós-graduação em Ciência da Religião (PPCIR) da Universidade Federal de Juiz de Fora, em 2002, pensei que seria adequado permanecer na área de concentração Filosofia da Religião.
O que poucos de vocês sabem é que meu projeto inicial não era exatamente este. Minha proposta de pesquisa, escrita para o processo seletivo voltava-se para uma leitura hermenêutica do clássico indiano Bhagavad-gita a partir do conceito heideggeriano de verdade. Muito sabiamente, no entanto, fui aconselhado pela banca a reduzir meu objeto aos conceitos de verdade e de linguagem em Heidegger. De fato, foi melhor assim, uma vez que não haveria tempo hábil para um apesquisa como aquela.
Bem, o tempo passou, vim viver na Paraiba (onde sou muitíssimo feliz, diga-se), tive algumas experiências docentes, e meu interesse acadêmico foi se definindo melhor.
De fato, a Filosofia continua sendo o lugar onde me movo com mais naturalidade – minhas incursões no âmbito das Ciências Sociais ainda são incipientes. Mas, meu principal interesse no campo disciplinar da Ciência da Religião sempre foi o que tenho chamado de “textos-fonte” da experiência religiosa. O que demonstra o exemplo do projeto do mestrado.
A partir disso vocês bem podem imaginar como me interessei por Kardec e sua obra. Eu procurava delimitar um objeto para a seleção do doutorado há algum tempo, e, em 2008, resolvi reler alguns livros da obra kardeciana. Como tenho alguns amigos espíritas e como eu mesmo já visitei alguns centros espíritas (e ainda visito, vez ou outra), comecei a comparar o que lia com o discurso que ouvia dos adeptos do espiritismo. Tal comparação deu-me a sensação de que em vários pontos – e com justificadarazão histórica – estes dois discursos diferiam significativamente. Principalmente quando se tratava daquilo que se convencionou chamar de o “tríplice aspecto da doutrina espírita” – a afirmativa de que o espiritismo é a um só tempo ciência, filosofia e religião. Percebi nisto uma possibilidade interessante para a pesquisa que gostaria de realizar.
Por fim, uma breve e superficial revisão na literatura acadêmica brasileira sobre espiritismo – a maioria dela desenvolvida do ãmbito das Ciências Sociais - deu-me a sensação de que, embora o espiritismo seja relativamente bem estudado no Brasil, como um grupo expressivo do campo religioso brasileiro, o estudo da obra de Kardec carecia de uma atenção maior.
Foi assim que a coisa se deu. Atualmente estou começando a fase das releituras para os primeiros esboços de capítulos da tese.
É isso aí…