Diz-se que Heráclito assim teria respondido aos estrangeiros vindos na intenção de observá-lo. Ao chegarem, viram-no aquecendo-se junto ao fogo. Ali permaneceram, de pé, (impressionados sobretudo porque) ele os encorajou a entrar, pronunciando as seguintes palavras: 'Mesmo aqui, os deuses também estão presentes'. (Aristóteles. De part. anim. , A5 645a 17ff).

domingo, setembro 13, 2009

Quando chega a hora?

Eu contei para meus pais de minha homossexualidade quando eu tinha 18 anos. Essa era a situação: morava em outra cidade (por causa da universidade) a pouco mais de 1 ano e eles estavam separados a menos de 1 ano.

Primeiro falei para meu pai, típica conversa de “pai pra filho”, numa visita de fim de semana. Ele perguntou se eu namorava e essas coisas… foi dizendo os nomes de uma amigas minhas… e eu dizendo que ele estava longe. Então ele falou o nome de, para ele, um amigo meu. Eu disse que era com ele que eu namorava. Ele me perguntou se era uma fase ou se eu gostava mesmo “disso” (sic). Eu disse que era gay mesmo. Ele disse que nada mudaria, que me amava e tudo mais. E nada mudou.

Com minha mãe foi um pouco mais dramático. Ela e meu pai brigaram por causa de um “segredo” meu que ele sabia e ela não. Disse-me que eu não confiava nela, que não a amava e saiu andando pela rua, altas horas da noite e na chuva …eu fui atrás dela disposto a encerrar essa confusão. Ela me perguntou que segredo era esse… se eu era drogado.. eu disse que não (querendo rir, mas respeitando seu choro)… perguntou se eu era gay… eu disse que era… e ela disse: “- Só isso!? Por que não me contou logo??” e também disse que me amava e que nada mudaria… e não mudou.

Faz dez anos que isso aconteceu. Eu ainda era dependente financeiramente falando (precisava de apoio para me sustentar em outra cidade durante a graduação). Na minha cabeça, o simples fato de eles saberem e apoiarem era o suficiente. Aos meus irmãos, (um casal e pouco mais jovens que eu), não achei necessário contar naquela época. Eles tinham a separação dos meus pais para digerir.

Mas quem são meus pais? Jovens dos anos 70/80. Minha mãe é professora de inglês de escolas públicas (na época que ela soube tinha 41 anos). Meu pai é taxista e ex-comunista (na época ele tinha 40 anos). Crescemos ouvindo que eles nos amavam e só queriam que fôssemos felizes. Eles tinham amigos gays e os respeitavam muito.

O que eu quero dizer com minha estória é que, como já falaram, não depende só da idade para contar para seus pais. Mas da maturidade: sua e deles.

E aí só cada um de nós, sabe os pais que tem em casa.

Estou “casado” fazem três anos. Todo mundo na minha família e na dele, no trabalho e entre nossos amigos sabe de nós. Mas tudo foi um processo de conquistas.E gays, pelo bem e pelo mal, têm que conquistar respeito em dobro.


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(Texto de João de Lima Neto. Originalmente publicado em: http://homofobiajaera.wordpress.com/2009/09/11/quando-chega-a-hora/#comments ).


Uma pequena amostra do talento e do caráter de meu companheiro da vida inteira.

Saudações!

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