Diz-se que Heráclito assim teria respondido aos estrangeiros vindos na intenção de observá-lo. Ao chegarem, viram-no aquecendo-se junto ao fogo. Ali permaneceram, de pé, (impressionados sobretudo porque) ele os encorajou a entrar, pronunciando as seguintes palavras: 'Mesmo aqui, os deuses também estão presentes'. (Aristóteles. De part. anim. , A5 645a 17ff).

quinta-feira, outubro 19, 2006

Não há verdade além das aparências.

Este é o grande ganho da fenomenologia filosófica: as coisas são aquilo que mostram ser. Não há algo a ser buscado para além das aparências. Tudo o que é, de fato, somente é em suas aparições. A verdade do ente não é algo a ser buscado, uma vez que já nela nos encontramos. Como diria Merleau-Ponty: "Nós estamos na verdade, e a evidência é a experiência da verdade."
Enquanto acreditarmos e defendermos que o lugar da verdade é o conceito, o juízo, o enunciado (como se fosse mesmo possível uma topologia da verdade) estaremos privados de uma real percepção da experiência com a verdade na qual estamos quotidianamente lançados.
A crença amplamente difundida de que há algo além das aparências a ser conhecido torna-nos cegos à beleza da própria manifestação daquilo que buscamos. Tornamo-nos filósofos profissionais, teólogos, cientistas, etc. Nos esquecendo que é melhor sermos pensadores, místicos, poetas.
O filósofo profissional, preso a seus sistemas metafísicos, embora se encontre na experiência com a verdade, torna-se um dogmático porque não pensa tal experiência. Ou antes, não se detém junto a ela para realmente percorrer o caminho da experiência. Como dissemos na epígrafe destas Mansões, tal pensamento (o do filósofo profissional) não se demora junto ao que deve ser pensado. Parece-me ser a isto que Heidegger acena ao afirmar em Ser e Tempo:
Por mais rico e estruturado que possa ser o seu sistema de categorias, toda ontologia permanece, no fundo, cega e uma distorção de seu propósito mais autêntico se, previamente, não houver esclarecido, de maneira suficiente, o sentido de ser e não tiver compreendido esse esclarecimento como sua tarefa fundamental.
Assim, um pensamento que não atente à abertura essencial do homem em relação ao mundo, que não se situe no bojo mesmo da experiência com os entes que lhe vêm ao encontro dentro do mundo, no aberto do mundo, fecha-se dogmaticamente e torna-se, em última instância cego e distorcido em seu propósito mais autêntico.
Um pensamento que desconsidere a aparência, que nada mais é que a essencialização dos fenômenos, sua manifestação primária e imediata, em busca de algo além, corre o risco de morrer antes mesmo de cumprir seu papel originário.

2 comentários:

amorica valente disse...

tem vários conceitos que desconheço... sou ignorante por completo!

Anônimo disse...

Pranams!

belo texto! sinceramente, quando estudo Heidegger sinto-me diante de algo tão extraordinário que tudo que vem antes dele soa como perfumaria. Claro, todos possuem sua importância histórica no pensamento ocidental, mas... Heidegger é Heidegger.
abraços meu irmão.
Jagadiswara Das