Com uma imposição de mãos, a Igreja Evangélica Luterana na América (ELCA), nos Estados Unidos, no último domingo, recebeu em seu rebanho sete pastores abertamente gays, que haviam sido barrados, até recentemente, do ministério da Igreja.
A reportagem é de Laurie Goodstein, publicada no jornal The New York Times, 25-07-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A cerimônia na Igreja Luterana St. Mark, em San Francisco, foi a primeira de várias cerimônias planejadas desde que a denominação obteve uma ampla margem de votos em sua convenção do ano passado para permitir que ministros gays não celibatários em relacionamentos comprometidos sirvam a Igreja.
"Hoje, a Igreja está falando com uma voz clara", disse o Rev. Jeff R. Johnson, um dos sete pastores gays que participaram da cerimônia. "Todas as pessoas são bem-vindas aqui, todas as pessoas são convidadas a ajudar a conduzir esta Igreja, e todas as pessoas são amadas incondicionalmente por Deus".
A Igreja Evangélica Luterana na América, conhecida como ELCA, com 4,6 milhões de membros, é hoje a maior Igreja protestante dos Estados Unidos que permite ministros homossexuais não celibatários a servir nas fileiras do seu clero – uma questão que tem provocado divisões dolorosas para ela, assim como para muitas outras denominações.
Desde que a Igreja votou, no ano passado, pela permissão de que membros do clero gay não celibatário pudessem servir a Igreja, 185 congregações usaram as duas votações consecutivas exigidas para sair da denominação, disse Melissa Ramirez Cooper, porta-voz da Igreja, citando um número que ela afirma ser atualizado mensalmente. Há 10.396 congregações em todo o país.
A Igreja Episcopal e a Igreja Unida de Cristo também permitem ministros gays. E a Assembleia Geral da Igreja Presbiteriana dos EUA votou, em sua convenção no início deste mês, pela sua aprovação, apesar de que a votação irá se tornar lei da Igreja só se for ratificada por uma maioria de 173 presbíteros regionais da Igreja. Duas denominações luteranas menores, a Lutheran Church Missouri Synod e a Wisconsin Evangelical Lutheran Synod, não ordenam ministros que tenham relacionamentos homossexuais.
Os sete ministros acolhidos na cerimônia de domingo já tinham sido ordenados e estavam servindo em igrejas ou ministérios da Bay Area de San Francisco, mas não haviam sido oficialmente reconhecidos na lista do clero.
"O efeito deles serem trazidos ao nosso plantel é que agora eles farão parte do nosso banco de dados nacional de pastores que estão disponíveis para o serviço em qualquer uma de nossas 10.500 igrejas", disse o bispo Mark W. Holmerud, que lidera o Sínodo de Sierra Pacific, que inclui San Francisco. Ele observou que, embora algumas congregações sejam abertas para considerar a contratação de ministros abertamente gays, outras não são – e cada congregação é livre para escolher.
Os luteranos evangélicos marcaram o rito especial de domingo como um "rito de reconciliação" para marcar a inclusão formal dos ministros homossexuais que foram ordenados em "ritos extraordinários", que não haviam sido reconhecidos pela Igreja, por terem sido conduzidos por um grupo chamado Ministérios Luteranos Extraordinários. Mais três pastores gays serão acolhidos em cerimônias em setembro e outubro, duas na área de St. Paul-Minneapolis e uma em Chicago, disse Cooper.
Amalia Vagts, diretora-executiva dos Ministérios Extraordinários Luteranos, disse: "Foi uma viagem longa e difícil para muitas pessoas, e parece que este é um novo começo na história da ELCA".
Ela disse que, somando todos, havia 46 ministros abertamente homossexuais que haviam sido previamente excluídos da lista do clero da Igreja e que agora passariam a ser aceitos.
A mudança foi possível depois que a Churchwide Assembly, o principal órgão legislativo dos luteranos evangélicos, votou em sua reunião de 2009 pela permissão da ordenação de pastores gays não celibatários que estão em relações monogâmicas. A denominação indicou uma força-tarefa para estudar a questão em 2001 e passou os outros oito anos em debate. No final, a proposta de permitir membros abertamente homossexuais ao clero ganhou apenas dois terços dos votos, o mínimo exigido para sua aprovação.
Alguns dos que se opuseram à decisão estão prestes a sair. O Rev. Mark Chávez, diretor da Lutheran CORE, uma coalizão de Igrejas luteranas teologicamente conservadoras, disse que seu grupo deve formar uma nova denominação, a North American Lutheran Church, em agosto.
Ele disse que da cerimônia do domingo "é apenas mais um passo firme tomado pela ELCA para mover a denominação para mais e mais longe da maioria das Igrejas luteranas ao redor do mundo e de toda a Igreja cristã, infelizmente".
Antes da cerimônia, um dos pastores gays, a Rev. Megan M. Rohrer, disse que tinha sido uma longa jornada desde sua casa em South Dakota – onde seus companheiros luteranos consideravam a sua sexualidade como um demônio a ser exorcizado – para finalmente ser acolhida como uma ministra da Igreja Luterana.
"É um convite", disse ela sobre a cerimônia, "para se unir a nós nos bancos da igreja todos os domingos, onde nenhum destes pastores vai se importar se você concorda conosco ou se você pensa que as nossas famílias são apropriadas. Vamos lhe dar a comunhão, vamos rezar com você e vamos visitá-lo no hospital".
(Fonte: IHU - Instituto Humanitas Unisinos)
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