Diz-se que Heráclito assim teria respondido aos estrangeiros vindos na intenção de observá-lo. Ao chegarem, viram-no aquecendo-se junto ao fogo. Ali permaneceram, de pé, (impressionados sobretudo porque) ele os encorajou a entrar, pronunciando as seguintes palavras: 'Mesmo aqui, os deuses também estão presentes'. (Aristóteles. De part. anim. , A5 645a 17ff).

sexta-feira, agosto 13, 2010

Nazistas obrigavam gays a transarem com prostitutas

 

Homofobia
História e Crítica de um Preconceito

Um livro de Daniel Borrillo

homofobia

 

Com a intenção de "tratar" a homossexualidade e recuperar a capacidade de reprodução de homossexuais, integrantes da polícia nazista obrigavam gays a transarem com prostitutas durante a Segunda Guerra. Se a conversão não dava certo, essas vítimas em eram castradas a fim de que não mais sentissem prazer.

Este cenário é retratado em "Homofobia - História e Crítica de um Preconceito", do jurista ítalo-argentino Daniel Borrillo, lançado pela editora Autêntica. A obra procura traduzir o significado e as origens do ódio aos homossexuais.

Por meio de um discurso maciço, explica o livro, a discriminação dirigida a gays constrói uma supremacia heterossexual. A ideia é explicada a partir da constante desvalorização da homossexualidade - alvo de piadas e encarada como pecado.

Professor de Direito na França, Borrillo investiga e analisa as ramificações da homofobia nos vários campos da atividade humana. Longe de cair em um vitimismo barato, "Homofobia - História e Crítica de um Preconceito"aborda a perseguição da igreja católica e explica o holocausto gay.

Apesar da veia acadêmica, a linguagem é acessível e de fácil compreensão. Leia trecho.

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O ministro Hans Frank julgava a homossexualidade uma atitude "contrária à perpetuação da espécie" (BOISSON, 1988, p.51). Desde 1930, as experimentações médicas para "curar" a homossexualidade não cessam de se multiplicar: enquanto ariano, o homossexual deveria ser recuperado para a função reprodutiva. Com esse objetivo, o Dr Varnet submeteu 180 indivíduos a um tratamento hormonal e, em troca do fornecimento de deportados-cobaias de que ele dispunha com toda a liberdade, o cientista teve que ceder a patente do "tratamento" que, supostamente, eliminava o "desejo anormal" (BURLEIGH; WIPPERMANN, 1991, p.195-196). A fim de recuperar "produtores de crianças", os gays e as lésbicas ariano(a)s foram submetidos,igualmente, a "estágios de reabilitação". Em uma crônica terrificante, um sobrevivente de campo de concentração, Heinz Heger (1981), relata como ele próprio e os outros deportados homossexuais eram obrigados, pelos integrantes da SS (Schutztaffel - organização altamente disciplinada, encarregada da proteção pessoal de Hitler), a copular com prostitutas. Todavia, esses procedimentos terapêuticos não produziram os resultados pretendidos, e a consequência dessa constatação de fracasso foi tão brutal quanto a solução proposta: diante da impossibilidade de curar os homossexuais, foi necessário castrá-los para privá-los, daí em diante, de qualquer prazer. Um projeto de lei que preconizava a castração dos homossexuais já havia sido apresentado em 1930 por aquele que, mais tarde, seria o ministro do Interior do 3º Reich, o deputado Wilhelm Fiek (MOSSE, 1985, p.158).

O horror era inimaginável, em particular, para aqueles que haviam conhecido a Berlim de outrora, cosmopolita e gay. No final do século XIX, duas revistas homófilas eram exibidas nos quiosques da cidade: Der Eigne e Sapho und Sócrates. Além disso, em 1987, o médico Magnus Hirschfeld e o editor Max Spohr criaram a primeira organização em favor dos direitos gays: o Comitê Científico-Humanitário (Wisssenschaftlich-humanitäires Komitee, WhK). Alguns anos depois, em 1919, Hirschfeld fundou o Instituto para a Ciência Sexual (Institut für Sexualwissenschaft), quem em pouco tempo, abrigará a maior biblioteca sobre a questão gay. Em 6 de maio de 1933, o Instituto foi atacado de forma brutal: 12.000 publicações e 35.000 fotografias relativas à homossexualidade foram queimadas. Nesse momento, seu diretor encontrava-se no exterior e não conseguiu voltar para a Alemanha; destituído de sua nacionalidade, M. Hirschfeld morreu no exílio, dois anos depois. Nesse mesmo ano, Hitler elimina, em circunstâncias misteriosas, Röhm e outros líderes da AS (Sturmabteilung, milícia paramilitar nazista). De acordo com uma tese, foi a partir do assassinato de Röhm que começou a perseguição dos homossexuais pelo nazismo; até então, havia reinado um clima de tolerância.

(Fonte: Livraria da Folha)

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