Como bem disse Martha Medeiros: “A religião deveria servir apenas para promover o amor e a paz de espírito”. No entanto, muitas vezes, ela serve também para criar uma imagem pervertida de um deus ansioso por castigar seus “filhos” e “filhas” desobedientes.
O texto abaixo mostra como Dennis Linn modificou sua imagem de Deus e pode compreender “o fundamento de uma sadia espiritualidade cristã”.
Em minha opinião, se há um deus – e não estou certo disso – ele deveria ser assim. Pois um deus que não sabe o que é amor, nem vale a pena conhecê-lo.
Abraço:
Augusto Araujo
Como mudou minha imagem de Deus
Denis Linn *
Certo dia Hilda me procurou em prantos. Seu filho tentara suicídio pela quarta vez. Contou-me que ele andava envolvido com prostituição, tráfico de drogas e assassinato. E encerrou a lista dos “grandes pecados” de seu filho questionando:
- O que me deixa mais preocupada é que meu filho diz que não quer nada com Deus. O que vai acontecer a meu filho se ele se suicidar antes de se arrepender e de se reconciliar com Deus?
Como naquela ocasião a minha imagem de Deus era a do tio George, o Bom Velhinho, pensei comigo mesmo: “Deus certamente vai mandar seu filho para o inferno”. Mas não quis dizer isso a Hilda. Fiquei contente que meus tantos anos de teologia me tivessem ensinado como é que se faz quando não se sabe responder a uma questão teológica difícil: devolva a pergunta.
- O que é que você pensa a respeito?
- Bom – respondeu Hilda – , acredito que, quando morremos, somos levados diante do trono do juízo de Deus. Se você viveu uma vida má, Deus manda você para o inferno. – E concluiu pesarosa: – Como meu filho levou uma vida extremamente má, se ele vier a morrer sem arrependimento, Deus certamente o mandará para o inferno.
Muito embora estivesse inclinado a concordar com ela, não quis dizer-lhe: “Muito bem, Hilda! Seu filho provavelmente vai mesmo para o inferno”. Agradeci novamente minha formação teológica, que me havia ensinado uma segunda tática: quando você não sabe como resolver um problema teológico, deixe que Deus o resolva. E então disse a Hilda:
- Feche os olhos. Imagine que você está sentada ao lado do trono do juízo de Deus. Imagine também que seu filho veio a morrer com todos os seus graves pecados e sem que tivesse se arrependido. Ele acaba de chegar diante do trono do juízo de Deus. Aperte minha mão assim que você formar essa imagem.
Poucos minutos depois, Hilda apertou minha mão. E passou a me descrever toda a cena do julgamento. Eu então lhe perguntei:
- Hilda, como é que seu filho está se sentindo?
Hilda respondeu:
- Meu filho está se sentindo muito sozinho e vazio.
Perguntei a Hilda o que ela gostaria de fazer. Ela disse:
- Quero atirar meus braços em volta de meu filho. – E ergueu os braços e se pôs a chorar, ao mesmo tempo que se imaginava estreitando fortemente seu filho nos braços.
Finalmente, quando cessou o choro, pedi-lhe que fitasse os olhos de Deus, buscando saber o que é que Deus queria fazer. Deus desceu de seu trono e, do mesmo modo como Hilda havia feito, abraçou o filho de Hilda. E os três – Hilda, seu filho e Deus – choraram juntos e se abraçaram um ao outro.
[…]
Fiquei atônito. O que Hilda havia me ensinado durante aqueles minutos é o fundamento de uma sadia espiritualidade cristã: Deus nos ama no mínimo tanto quanto a pessoa que mais nos ama.
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* Denis Linn é autor, juntamente com Sheila e Matthew Linn, é autor do livro Curando nossa imagem de Deus, publicado no Brasil pela Verus Editora (2002, p. 17-19), de onde retirei o texto acima.
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