Diz-se que Heráclito assim teria respondido aos estrangeiros vindos na intenção de observá-lo. Ao chegarem, viram-no aquecendo-se junto ao fogo. Ali permaneceram, de pé, (impressionados sobretudo porque) ele os encorajou a entrar, pronunciando as seguintes palavras: 'Mesmo aqui, os deuses também estão presentes'. (Aristóteles. De part. anim. , A5 645a 17ff).

domingo, julho 18, 2010

Da nossa imagem de deus e da esquizofrenia religiosa

 

Esquizofrenia2

Hoje, logo após escrever o post anterior, lembrei-me do livro que primeiro me fez refletir sobre essas coisas - “Curando nossa imagem de Deus” – e da história narrada em seu primeiro capítulo: a história de “Tio George, o Bom Velhinho”. Gosto muito dessa narrativa alegórica, pois quando a li pela primeira vez tive um verdadeiro despertar de compreensão. Como encontrei, aqui na casa de meus pais, o referido livro, transcrevo para vocês esta pequena parábola. Espero que apreciem.

Abraços:

Augusto Araujo

Em Barbacena, Minhas Gerais.

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Tio George, o Bom Velhinho

“Eu […] cresci com uma imagem de Deus que se assemelha ao tio George, o Bom Velhinho, tal como descrito por Gerard Hughes:

‘Deus era pessoa da família, muito admirado por papai e mamãe, que o descreviam como alguém muito amoroso, grande amigo da família, muito poderoso e interessado em todos nós. Até que um certo dia nós fomos visitar o ‘tio George, o Bom Velhinho’. Ele vive numa formidável mansão, é barbudo, carrancudo e ameaçador. Não pudemos compartilhar da admiração declarada de nossos pais por essa joia da família. Ao final da visita, tio George dirigiu-se a nós:

   - Escutem, meus queridos – começou ele mirando-nos severamente – quero ver vocês aqui uma vez por semana. Se vocês deixarem de vir, vou mostrar o que lhes vai acontecer.

E então nos levou para baixo, até os porões da mansão. Era escuro, ia-se tornando cada vez mais quente à medida que descíamos, e começamos a ouvir barulhos que não pareciam ser deste mundo. As portas do porão eram de aço. Tio George abriu uma delas:

   -  Agora deem uma olhada por aí, queridos – disse ele.

O que se apresentou a nós era uma visão de pesadelo, com fileiras de fornalhas ardentes atiçadas por pequenos demônios, que lançavam às chamas aqueles homens, mulheres e crianças que falhavam em suas vistas ao tio George ou que não agiam do modo que ele desejava.

   - E se vocês não vierem me visitar, queridos, é para aí que com certeza vocês irão – disse tio George.

Em seguida, levou-nos de volta escada acima, ao encontro de nossos pais. Na volta para casa, enquanto agarrávamos fortemente as mãos de papai e mamãe, ela se inclinou sobre nós e perguntou:

   - E agora, vocês não vão amar tio George de todo o coração, de toda a alma, de todo o entendimento e com todas as suas forças?

E nós, abominando o monstro, respondemos:

   - Sim, vamos – porque responder qualquer outra coisa significaria entrar na fila para a fornalha.

Já desde a mais tenra idade, a esquizofrenia religiosa se havia instalado, e nós continuamos a dizer ao tio George o quanto o amávamos, quão bom ele era, que nós queríamos fazer apenas aquilo que lhe agradava. Agíamos conforme seus desejos e sequer ousávamos admitir, ainda que só para nós, que nós o odiávamos’.”

(LINN, Matthew; et al. Curando nossa imagem de Deus. Campinas: Verus Editora, 2002. p. 13-14).

2 comentários:

Vital Cruvinel disse...

Que bacana, Augusto!

Adora estas estórias! Esta é, realmente, muito representativa. Gostaria de publicá-la em meu blog Divagando... pode ser? Aproveito e indico o link para o seu blog.

Abraços!

Augusto Araujo disse...

Oi Vital:

Obrigado por sua generosa apreciação, como sempre!

Fique à vontade para publicar o que você quiser. Para mim será um prazer!

Grande abraço!