Uma juíza de paz argentina afirmou nesta sexta-feira que jamais realizará o casamento de casais homossexuais, um dia depois de o Senado aprovar uma lei que autoriza essas uniões.
“Que me acusem do que quiser. Deus me diz uma coisa e eu vou obedecer, mesmo que custe meu posto, e mesmo que me custe a vida, porque primeiro está o que Deus me diz”, afirmou Marta Covella, juíza de paz da cidade de General Pico.
“Fui criada lendo a Bíblia e sei o que Deus pensa. Deus ama a todos, mas não aprova as coisas ruins que as pessoas fazem. E uma relação entre homossexuais é uma coisa ruim diante dos olhos de Deus”, assinalou ainda.
(Fonte: Bule Voador)
Algumas palavras sobre este fato
Há muito tenho comentado neste blog sobre a pretensão que fundamentalistas têm em conhecer a mente de Deus apenas com base em sua leitura radical da Bíblia.
Diante disso apenas me lembro de uma experiência que gostaria de compartilhar com vocês. Quando decidi que era o momento de falar abertamente a meus pais sobre o fato de eu ser homossexual, fiquei preocupado de que nossa relação ficasse abalada a tal ponto que eles preferissem que eu me mantivesse distante deles. Felizmente eles são muito melhores que eu. E não apenas superaram o choque inicial, como não permitiram que nossa relação sofresse qualquer dano. E mais, acolheram meu companheiro como a filho.
Essa generosidade e esse amor incondicional, abriram meus olhos para compreender muito melhor o que significa amar alguém. Hoje sinto engulhos toda vez que leio ou escuto quem diz que Deus ama os homossexuais – e a todos os demais “pecadores” – mas só pode fazer algo de bom a eles – por exemplo, não permitir sua ida inevitável para o inferno por toda a eternidade – se os mesmos se converterem e agirem não como eles pensam ser o melhor para si, mas de acordo com um conjunto de livros com preceitos contraditórios e, muitas vezes, imorais para os padrões civilizados.
Quando penso no amor incondicional demonstrado por meus pais e penso nesse deus amargurado que querem me enfiar goela abaixo, não posso deixar de pensar que não preciso dele. Se há um deus – e, falando honestamente, não posso afirmá-lo ou negá-lo – e se ele é amor, como me dizem; não há a possibilidade de que ele me ame menos do que as pessoas que mais me amam no mundo. Caso contrário, esse deus, supondo que exista, é completamente dispensável para mim, e viver no inferno parece ser uma alternativa mais atraente.
Uma divindade que, para ser propiciada, precisa que eu negue minha natureza, não merece minha atenção. Contudo, se ele pode me acolher e me respeitar, me amar e desejar que eu esteja sempre com ele, aí sim posso concebê-lo e amá-lo.
Ao contrário, a imagem de um deus que, ao menor desagrado, permite passivamente que aqueles a quem diz amar vivam em sofrimento eterno, não condiz com o epíteto “amor”. E, aqueles que o adoram, em nome desse deus impiedoso e cruel, tornam-se igualmente impiedosos e cruéis. Amargos reflexos, à imagem e semelhança do deus a que adoram.
Augusto Araujo.
Em Barbacena, Minas Gerais.
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