Hoje, logo após escrever o post anterior, lembrei-me do livro que primeiro me fez refletir sobre essas coisas - “Curando nossa imagem de Deus” – e da história narrada em seu primeiro capítulo: a história de “Tio George, o Bom Velhinho”. Gosto muito dessa narrativa alegórica, pois quando a li pela primeira vez tive um verdadeiro despertar de compreensão. Como encontrei, aqui na casa de meus pais, o referido livro, transcrevo para vocês esta pequena parábola. Espero que apreciem.
Abraços:
Augusto Araujo
Em Barbacena, Minhas Gerais.
______________________________________________
Tio George, o Bom Velhinho
“Eu […] cresci com uma imagem de Deus que se assemelha ao tio George, o Bom Velhinho, tal como descrito por Gerard Hughes:
‘Deus era pessoa da família, muito admirado por papai e mamãe, que o descreviam como alguém muito amoroso, grande amigo da família, muito poderoso e interessado em todos nós. Até que um certo dia nós fomos visitar o ‘tio George, o Bom Velhinho’. Ele vive numa formidável mansão, é barbudo, carrancudo e ameaçador. Não pudemos compartilhar da admiração declarada de nossos pais por essa joia da família. Ao final da visita, tio George dirigiu-se a nós:
- Escutem, meus queridos – começou ele mirando-nos severamente – quero ver vocês aqui uma vez por semana. Se vocês deixarem de vir, vou mostrar o que lhes vai acontecer.
E então nos levou para baixo, até os porões da mansão. Era escuro, ia-se tornando cada vez mais quente à medida que descíamos, e começamos a ouvir barulhos que não pareciam ser deste mundo. As portas do porão eram de aço. Tio George abriu uma delas:
- Agora deem uma olhada por aí, queridos – disse ele.
O que se apresentou a nós era uma visão de pesadelo, com fileiras de fornalhas ardentes atiçadas por pequenos demônios, que lançavam às chamas aqueles homens, mulheres e crianças que falhavam em suas vistas ao tio George ou que não agiam do modo que ele desejava.
- E se vocês não vierem me visitar, queridos, é para aí que com certeza vocês irão – disse tio George.
Em seguida, levou-nos de volta escada acima, ao encontro de nossos pais. Na volta para casa, enquanto agarrávamos fortemente as mãos de papai e mamãe, ela se inclinou sobre nós e perguntou:
- E agora, vocês não vão amar tio George de todo o coração, de toda a alma, de todo o entendimento e com todas as suas forças?
E nós, abominando o monstro, respondemos:
- Sim, vamos – porque responder qualquer outra coisa significaria entrar na fila para a fornalha.
Já desde a mais tenra idade, a esquizofrenia religiosa se havia instalado, e nós continuamos a dizer ao tio George o quanto o amávamos, quão bom ele era, que nós queríamos fazer apenas aquilo que lhe agradava. Agíamos conforme seus desejos e sequer ousávamos admitir, ainda que só para nós, que nós o odiávamos’.”
(LINN, Matthew; et al. Curando nossa imagem de Deus. Campinas: Verus Editora, 2002. p. 13-14).
2 comentários:
Que bacana, Augusto!
Adora estas estórias! Esta é, realmente, muito representativa. Gostaria de publicá-la em meu blog Divagando... pode ser? Aproveito e indico o link para o seu blog.
Abraços!
Oi Vital:
Obrigado por sua generosa apreciação, como sempre!
Fique à vontade para publicar o que você quiser. Para mim será um prazer!
Grande abraço!
Postar um comentário