Cena do filme ''O Último Romance de Balzac'', exibido em Gramado.
NEUSA BARBOSA
Especial para o UOL, do Cineweb, de Gramado
A atual onda espiritualista do cinema brasileiro chegou ao Festival de Gramado nesta noite de domingo (8), através do concorrente “O Último Romance de Balzac”, de Geraldo Sarno. Misto de documentário e ficção, o filme baseia-se em estudos sobre uma suposta obra psicografada do romancista francês Honoré de Balzac (1799-1850), o celebrado autor de “A Comédia Humana” e “As Ilusões Perdidas”.
Dois personagens principais ocupam a parte documental: o médico e médium Waldo Vieira, que psicografou em 1965 um suposto romance inédito de Balzac, intitulado “Cristo espera por ti”; e o psicólogo Osmar Ramos Filho, que analisa outro romance, este escrito em vida por Balzac, “A pele de Onagro” (1831), encontrando pontos de contato entre seu estilo e temas com a obra psicografada que, segundo ele, comprovariam a autoria do escritor nesta última.
A parte ficcional encena justamente trechos de “A pele de Onagro”, que são filmados dentro da estética do cinema mudo, em preto-e-branco, com intertítulos. Neste segmento, o protagonista, Raphael de Valentin, um artista obcecado pelo suicídio, é vivido pelo músico e cantor José Paes Lira, o Lirinha do extinto grupo Cordel do Fogo Encantado.
No debate desta tarde de segunda, o diretor Geraldo Sarno (de “Viramundo” e “Tudo isto me parece um sonho”), rejeitou a classificação de seu filme como religioso. “Não sou espírita. A visão religiosa que há no filme é de Waldo Vieira, que respeito imensamente”. Indagado porque não mencionou que Vieira deixou o espiritismo pouco depois de ter lançado a obra psicografada “Cristo espera por ti”, Sarno afirmou que isto “ está fora do universo do filme”.
Outra questão sobre a ausência de especialistas não-espíritas, especialmente literários, em “O Último Romance de Balzac”, foi respondida pelo próprio Osmar Ramos Filho. Ele contou ter procurado o linguista Paulo Rónai, grande estudioso de Balzac, e este rejeitou a origem da obra psicografada. Rónai, de acordo com Ramos, teria dito: “Eu estaria louco se admitisse que Balzac escreveu qualquer coisa depois de 1850, ano de sua morte”.
(O artigo pode ser lido na íntegra, com comentários a outros momentos do Festival, em: UOL Cinema)
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