Diz-se que Heráclito assim teria respondido aos estrangeiros vindos na intenção de observá-lo. Ao chegarem, viram-no aquecendo-se junto ao fogo. Ali permaneceram, de pé, (impressionados sobretudo porque) ele os encorajou a entrar, pronunciando as seguintes palavras: 'Mesmo aqui, os deuses também estão presentes'. (Aristóteles. De part. anim. , A5 645a 17ff).

sábado, maio 15, 2010

Teologia e Fundamentalismo

 

Um texto de Paul Tillich [1]

A teologia, como função da igreja cristã, deve servir às necessidades desta igreja. Um sistema teológico deve satisfazer duas necessidades básicas: a afirmação da verdade da mensagem cristã e a interpretação desta verdade para cada nova geração. A teologia oscila entre dois pólos: a verdade eterna de seu fundamento e a situação temporal em que essa verdade eterna deve ser recebida. Não são muitos os sistemas teológicos que souberam combinar perfeitamente essas duas exigências. A maioria deles ou sacrificam elementos da verdade ou não são capazes de falar ao momento atual. Alguns padecem de ambos os defeitos. Temerosos de perder a verdade eterna, identificam-na com algum trabalho teológico anterior, com conceitos e soluções tradicionais, e tentam impô-los a uma situação nova e diferente. Confundem a verdade eterna com uma expressão temporal desta verdade. Isso se torna evidente na ortodoxia teológica europeia, conhecida nos Estados Unidos como fundamentalismo. Quando o fundamentalismo se combina com uma tendência anti-teológica, como ocorre, por exemplo, em sua forma biblicista-evangelical, a verdade teológica de ontem é defendida como uma mensagem imutável contra a verdade teológica de hoje e de amanhã. O fundamentalismo deixa de entrar em contato com a situação presente, não porque fale desde além de qualquer situação, mas porque fala desde uma situação do passado. Eleva algo finito e transitório a uma validez infinita e eterna. Nesse sentido, o fundamentalismo possui traços demoníacos. Ele destrói a humilde honestidade da busca pela verdade, cria em seus seguidores pensativos uma crise de consciência e os torna fanáticos, porque são forçados a suprimir elementos da verdade dos quais têm consciência, mesmo que vaga.

 


[1] TILLICH, Paul. Teologia Sistemática. São Leopoldo: Sinodal, 2005. p. 21. (Trad.: Getúlio Bertelli e Geraldo Korndörfer).

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