Diz-se que Heráclito assim teria respondido aos estrangeiros vindos na intenção de observá-lo. Ao chegarem, viram-no aquecendo-se junto ao fogo. Ali permaneceram, de pé, (impressionados sobretudo porque) ele os encorajou a entrar, pronunciando as seguintes palavras: 'Mesmo aqui, os deuses também estão presentes'. (Aristóteles. De part. anim. , A5 645a 17ff).

sábado, setembro 30, 2006

Porque a vida é agora.


Passear com amigos, tomar um café, comer pipoca na rua... A noite hoje está linda aqui em Campina Grande!
A vida tem lances estranhos que se sucedem, também para mim. E eu estou no cerne das mudanças, no turbilhão de estar em pleno vôo. E nada abaixo de mim! Não tenho medo, não tenho dúvidas: eu quero me lançar! Porque a vida é agora e, talvez, não haja outra.
E há um par de olhos castanhos em meio a isso tudo. Um sorriso...
E sigo, sem fôlego, diante da majestosa sensação de estar no jogo!
Bhaktisiddhanta Dasa
(Augusto Araujo)

sexta-feira, setembro 29, 2006

Ensaio 1


Salve, salve! Tenho me divertido um pouco tirando fotos por aí. Não sou fotógrafo, obviamente. Nem tenho temas interessantes pra postar. Mas, pra quem quer começar a conhecer minha casa, aí vai a primeira. Uma vista privilegiada: sentado no vaso sanitário.
Um abraço:
Bhaktisiddhanta Dasa.
(Augusto Araujo)

quarta-feira, setembro 27, 2006

Sentir, sentir, sentir...

Tenho tanto desejo de compreender! Tanta ânsia! E há momentos em que sou movido única e exclusivamente por tal desejo. Como agora.

Entendam, por favor, não quero erudição, que é acúmulo de conhecimento. Quero estar no jogo, saber (= saborear) as possibilidades que a vida oferece. Estar no cerne da loucura e ver de perto a força devastadora do centro do tufão. Não tenho medo nem quanto a essa vida, nem quanto à próxima (se houver). Não há ameaça possível que retenha minha sóbria insensatez.

Hoje eu sinto queimar uma paixão em mim. E não temo me entregar, não me assusta a possibilidade de me render e me submeter, não ao outro, mas à intrépida movimentação interna que me comove.

Quero estar, não quero ser.

Mais Augusto do que nunca!

sexta-feira, setembro 22, 2006

E a vida tá seguindo seu rumo...



Eu sei, eu sei... há muito não posto alguma coisa. Tenho já a segunda parte do texto que estou publicando quase pronto para postar. Mas, está difícil me concentrar. Contudo, sairá, eu prometo.

Enquanto isso a vida vai seguindo seu rumo normal. Morando sozinho agora, o que facilita algumas coisas e complica outras; trabalhando; planejando coisas... Correria, mas felicidade concomitante! Assim que eu gosto!

Sem maiores reflexões, uma fotinho pra vocês verem minha cara de sonso! (By Sankarshana Das).

Abraços:

Bhaktisiddhanta Dasa
(Augusto Araujo)

sexta-feira, setembro 15, 2006

Desejo...

Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes, o cotidiano era um pensar alturas
Buscando aquele Outro decantado
Surdo à minha humana ladradura.
Visgo e suor, pois nunca se faziam.
Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo
Tomas-me o corpo. E que descanso me dás
Depois das lidas. Sonhei penhascos
Quando havia o jardim aqui ao lado.
Pensei subidas onde não havia rastros.
Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do Nada.

(Hilda Hilst. Do Desejo, I)

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Porque hoje eu tô rebelde!

O mesmo de sempre.

segunda-feira, setembro 11, 2006

Mudanças, mudanças... e, mais mudanças...

Beija-Flor

Composição: Flávio Venturini e Ronaldo Bastos

O que faz o beija-flor
Ter vontade de voar?
Vai e diz ao meu amor
O que viu do meu penar
Vai dizer ao meu grande amor
Que eu sempre vou tão só
Diz também para o meu amor
É só voltar, beija-flor
O que faz o beija-flor
Ter lampejos cor do mar?
Quando eu penso em você
Meu desejo é navegar
O que faz o beija-flor
Ter mais prata que o luar
Faz o mel da tua flor
Ser mais doce ao paladar
Vai dizer ao meu grande amor
Que eu sempre estou e vou tão só
Diz também para o meu amor
É só voltar, beija-flor
Quando riscas o céu
És mais doce que o mel
Que tiras da flor
Mais do que viver
Só te importa voar... Beija-flor
O que faz o beija-flor
Ter vontade de voar?
Vai e diz ao meu amor
O que viu do meu penar
Vai dizer ao meu grande amor
Que eu sempre vou tão só
Diz também para o meu amor
É só voltar, beija-flor
É só voltar, beija-flor
É só voltar, beija-flor
É só voltar...
____________________________
Com um abraço:
Bhaktisiddhanta Dasa
(Augusto Araujo)

quarta-feira, setembro 06, 2006

Da essência da Verdade à essência da Divindade (Parte I)

1. Introdução:
A partir de hoje começo a publicar, com algumas correções, um artigo que escrevi no ano de 2003. É um artigo sobre a possibilidade de se pensar uma aproximação entre Filosofia e Religião a partir das investigações ontológicas de Martin Heidegger (1889-1976). Bem, na época era esta minha preocupação fundamental uma vez que eu mesmo me debatia com essa problemática em minha vida pessoal. Agora, contudo, esta já não é mais a questão fundamental para mimApesar disto, ela ainda continua possuindo algum sentido existencial não declarado para meu pensamento. Portanto, desde seu nascimento, e ainda agora, este texto se constituía como uma reflexão preliminar e provisória sobre os temas que posteriormente seriam trabalhados por mim em minha dissertação de mestrado: Da Essência do Sagrado: Um estudo a partir da compreensão de Verdade e Linguagem no pensamento de Martin Heidegger. Torna-se, portanto, evidente que a confecção desta implicou em mudanças no pensamento que motivou o artigo original. Da mesma forma que, passados três anos da defesa da dissertação, muita coisa se modificou em minha maneira de ver a questão ali tratada, a saber: a questão sobre a possibilidade de uma experiência pensante com o Sagrado em seu essencializar-se.
Em minha opinião Heidegger é, sem sombra de dúvida, um dos maiores, se não o maior, filósofo do século XX. Por isto, nessa reedição do artigo quero continuar tomando o pensamento deste pensador como linha condutora de meu próprio pensar. Ou seja, será a partir da questão ontológica formulada por Heidegger em sua obra Ser e Tempo (1927) que a questão sobre o Sagrado se colocará para nós aqui. Isto porque, já não me interessa mais se é ou não possível uma relação entre Filosofia e Religião (ou em outros termos: Filosofia e Teologia) a partir do pensamento do filósofo alemão. Mais fundamental que isto me parece questionar, como fiz em minha dissertação, se é possível ao pensamento em geral uma experiência com o Sagrado.
O motivo desta mudança me parece evidente. Ao buscar aquela relação (Filosofia versus Teologia) corro o risco de transformar a questão ontológica (que é a questão primordial do pensamento) numa questão subsidiária de Filosofia da Religião. Ora, quem conhece o pensamento de Heidegger e seu significado para a história da Filosofia saberá que tal limitação seria em tudo uma temeridade. Uma temeridade que eu cometi quando escrevi este artigo pela primeira vez ao pensar que a questão de fundo de todo o pensar de Heidegger envolvesse, de algum modo, a questão religiosa. Na verdade, essa interpretação se mostrou antes uma projeção de minhas próprias questões existenciais. Definitivamente, não é possível encontrar no todo da obra heideggeriana algo como uma Filosofia da Religião, embora, possa se encontrar referências ao Sagrado em seus textos sobre a relação entre a poesia e o pensamento.
Bem, na reformulação de meu artigo, tomarei uma afirmação de Heidegger como fio condutor de minha reflexão sobre o Sagrado e o Pensamento. Esta afirmação diz o seguinte:

Sòmente (sic) a partir da Verdade do Ser pode-se pensar a Essência do sagrado. Sòmente (sic) a partir da Essência do sagrado pode-se pensar a Essência da divindade. Sòmente (sic) na luz da Essência da divindade pode-se pensar e dizer o que a palavra “Deus” pretende significar.[1]

Mas, como pensar a Verdade do Ser em sua relação com a Essência do sagrado e desta com a Essência da divindade? E, como pensar a Essência do sagrado desde a Essência da Verdade? E, como pensar a Essência da divindade desde as anteriores? Essas três questões deverão nortear o presente trabalho. Minha busca por uma possibilidade de uma experiência pensante com o Sagrado como condição de um pensar e relacionar-se com o deus, deverá em primeiro lugar pensar a Verdade do Ser em sua Essência, para em seguida pensar a Essência do Sagrado e, por último a Essência da Divindade. Minha intuição primordial, de que haverá uma possibilidade de acesso, por meio da filosofia heideggeriana, ao que comumente se chama de experiência religiosa a partir da análise hermenêutica dos documentos religiosos (textos, ritos, etc.) como fatos de linguagem, cede lugar a um esclarecimento ontológico preliminar sobre a possibilidade de uma experiência com o Sagrado e, conseqüentemente, com o essencializar-se da Divindade. Espero que esta reflexão possa, enfim, confirmar a referida intuição.
Nota:
[1] HEIDEGGER, Martin. Sobre o Humanismo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1995. p. 81.

sexta-feira, setembro 01, 2006

O essencializar-se da Verdade

Não que eu não queria a força e solidez das certezas, mas a perenidade da busca me azucrina as idéias. Na tentativa de definição de mim mesmo não ouso substancializar-me. Na verdade, não ouso mais fazê-lo. Porque houve época, num tempo não muito distante daqui, em que eu também me dava ao desfrute de ter lá minhas "verdades".

A angústia diante da falta de solidez que, se Zygmunt Baumann tem razão, caracteriza nossa tão amada modernidade; ou, diante do Nada da ausência de fundamento, segundo Heidegger; aterrorizou-me durante um longo período de tempo. Era como seu eu mesmo devesse viver minha própria "idade das trevas", algo como um fato, um destino do qual não poderia escapar.

Lembro-me uma vez, na versão mais antiga deste blog, quando escrevi sobre meu modo de ser barroco. Foi um dos textos que mais apreciei escrever naqueles dias. Nele eu me dava a conhecer de um modo que, até para mim, era inusitado. Foi algo como uma psicografia de mim mesmo. Contudo, tão logo pude me compreender assim, deixei de ser assim. Dito desse modo parece maluquice, e talvez seja mesmo. Mas, algo mais profundo está em jogo. Algo que, se não me engano, vai até mesmo além das determinações psicológicas de qualquer senso de identidade. Falo do essencializar-se da Verdade.

Em Sobre a essência da Verdade (1943) "meu amigo" Heidegger fala sobre como a Filosofia deve tornar-se algo como uma revolta contra o evidente. Não sei se ele usa essa expressão exata "revolta contra o evidente", mas é esta a sensação que tenho toda vez que leio a introdução deste texto. Ela inaugura para mim a compreensão do papel do Filosófo, ou antes, o seu lugar no mundo: o mistério. Contra o império do evidente Heidegger parece propor o mistério.

Compreender o mistério é minha grande tarefa, a tarefa que toma minha estadia neste mundo e a torna tão excitante em tantos aspectos. Compreender como a partir do mistério a Verdade se dá e nos toma para si é um dos motivos pelos quais venho aqui conversar com vocês. É por este motivo que dou aulas, leio, pesquiso... vivo...

De fato, a busca pela Verdade, se configura em busca de mim mesmo. Pois, embora não ouse me "substancializar" tomando qualquer conceito que me ofereçam como definição suficiente de mim; embora eu recuse conscientemente os rótulos de qualquer espécie; desejo realizar o que há de mais próprio em mim: desejo tornar-me questão.

Um forte abraço:
Bhaktisiddhanta Dasa.
(Augusto Araujo)

O templo, o deus, a verdade...

(...)
Agora pomos a questão da verdade tendo a obra em vista. Contudo, para que nos tornemos mais conhecedores daquilo que está em questão, é necessário tornar novamente manifesto o acontecimento da verdade na obra. Elejamos deliberadamente para esta tentativa uma obra que não pertence à arte figurativa.

Uma obra arquitectónica, um templo grego, não copia coisa alguma. Está simplesmente aí de pé, no meio do vale rochoso e acidentado. A obra arquitectónica envolve a figura do deus e, neste encobrimento [Verbergung], deixa-a avançar, através do pórtico aberto, para o recinto sagrado. Por meio do templo, o deus torna-se presente no templo. Este estar-presente do deus é, em si, o estender-se e delimitar-se do recinto como um recinto sagrado. Porém, o templo e o seu recinto não se desvanecem no indeterminado. A obra que o templo é articula e reúne pela primeira vez à sua volta, ao mesmo tempo, a unidade das vias e das conexões em que nascimento e morte, desgraça e benção, triunfo e opróbrio, perseverança e decadência... conferem ao ser-humano a figura do seu destino [Geschick]. A vastidão vigente destas conexões que estão abertas é o mundo deste povo histórico. É só a partir dele e nele que este retorna a si mesmo para a realização da sua determinação.

Aí de pé, a obra arquitectónica repousa sobre o solo rochoso. Este assentar da obra extrai da rocha a obscuridade do seu suportar rude e, no entanto, a nada impelido. Aí de pé, a obra arquitectónica resiste à tempestade furiosa que sobre ela se abate, e desta forma, revela pela primeira vez a tempestade em toda a sua violência. Só o brilho e o fulgor da rocha, que aparecem eles mesmos apenas graças ao Sol, fazem, no entanto, aparecer brilhando [zum Vorschein bringen] a claridade do dia, a amplitude do céu, a escuridão da noite. O erguer-se seguro torna visível o espaço invisível do ar. O carácter imperturbado da obra destaca-se ante a ondulação da maré e deixa aparecer, a partir do seu repouso, o furor dela. A árvore e a erva, a águia e o touro, a serpente e o grilo conseguem, pela primeira vez, alcançar a sua figura mais nítida e, assim, vêm à luz como aquilo que são. Desde cedo, os gregos chamaram a este mesmo surgir e irromper, no seu todo, a phýsis. Ao mesmo tempo, clareia aquilo sobre o qual e no qual o homem funda o seu habitar. Chamamos-lhe a terra. Há que manter afastadas daquilo que esta palavra aqui quer dizer tanto a representação de um amassa de matéria sedimentada, como a representação meramente atronómica de um planeta. A terra é aquilo em que se volta a pôr a coberto o irromper de tudo aquilo que irrompe e que, com efeito, [se volta aí a pôr coberto] enquanto tal. Naquilo que irrompe, a terra está a ser como aquilo que põe a coberto.

A obra que o templo é, estando aí de pé, torna originariamente patente um mundo e, ao mesmo tempo, repõe-no sobre a terra, a qual desse modo, só então surge como solo natal. Mas os homens e os animais, as plantas e as coisas nunca estão aí nem são tidos como objectos imutáveis, para, mais tarde, constituírem, de forma casual, a envolvência apropriada para templo, que, um dia, se acrescenta também àquilo que está presente. Aproximamo-nos mais daquilo que é se pensarmos tudo ao invés [umgekehrt], supondo, evidentemente, que somos, antes de mais, capazes de ver como tudo se nos apresenta de outro modo. A simples inversão, efectuada por si mesma, não resulta em nada.

O templo, no seu estar-aí-de-pé, dá às coisas pela primeira vez o seu rosto, e aos homens dá pela primeira vez a perspectiva acerca de si mesmos. Esta vista permanece aberta enquanto a obra for uma obra, enquanto a obra for uma obra, enquanto o deus não se tiver escapado dela. O mesmo acontece com a imagem do deus, que o vencedor, no torneio, lhe consagra. Não é uma cópia para que, por ela, mais facilmente se tome conhecimento do aspecto do deus, mas sim um a obra que deixa o próprio deus estar presente e, por isso, é o próprio deus. O mesmo é válido para a obra lingüística. Na tragédia, nada é representado ou exibido, trava-se antes a luta dos novos deuses contra os antigos. Como a obra lingüística se constitui no dizer do povo, não fala acerca desta luta, mas altera o seu dizer, de modo que cada palavra essencial trava esta luta e propõe à decisão o que é sagrado e o que é ímpio, o que é grande e o que é pequeno, o que é corajoso e o que é cobarde, o que é elevado e o que é superficial, quem é senhor e quem é servo (cf. Heráclito, frg. 53). (...).

HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. In: _____. Caminhos de Floresta. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2002. p.38-41.